Aguirre e a (falta de) convicção no futebol

Pau que nasce torto, nunca se endireita. Esse provérbio português se aplica hoje ao Inter. Já coube sob medida no Grêmio.

Iniciar uma temporada com um treinador que não estava nos planos é sempre um erro. E um erro que chama outro e assim sucessivamente.

No Grêmio há o caso recente da contratação de Enderson Moreira para disputar uma Libertadores. Na época escrevi que não era um técnico à altura da competição e menos ainda do clube.

Antes, houve Luxemburgo, praticamente imposto pela torcida ao presidente Fábio Koff, que cometeu ali seu primeiro e maior erro em sua volta ao Grêmio. Ele não queria Luxemburgo. Tudo mais foi consequência.

Pau que nasce torto, até a cinza é torta.

São inúmeros os exemplos de como são nefastos os efeitos de começar um trabalho com um técnico que não tenha muita credibilidade entre os dirigentes, principalmente entre os dirigentes, mas também junto à torcida. As primeiras pesquisas indicam que a torcida colorada, em sua maioria, reprova a contratação de Diego Aguirre.

Pesa contra o uruguaio, sem dúvida, o fato de o Inter ter acenado com Tite, Luxemburgo, Mano e Abel. Nada contra o técnico uruguaio, mas ele não tem a dimensão de nenhum dos quatro citados. Sendo que nos bastidores o Inter ainda sondou Muricy.

Sem contar o fato de que o presidente eleito foi taxativo ao afirmar que não contrataria técnico estrangeiro. Assim como descartou Abel Braga e depois, vendo que as alternativas escasseavam, recuou.

Então, Aguirre é uma alternativa improvisada. Também entre os estrangeiros ele estava em plano inferior de preferência. Aliás, desconheço caso de técnico estrangeiro dar certo no futebol brasileiro na era moderna.

Tem ainda outro ponto curioso: os veículos de comunicação, depois de insistirem demais com Tite – nome que descartei logo de cara e deixei registrado aqui – como quem diz ‘é o Tite que nós queremos’. Parecia até campanha política. Tinha gente no palanque bradando o nome de Tite.

Bem, agora, há um esforço para encontrar aspectos favoráveis a Aguirre. Por exemplo, já jogou no Inter, disputou o Gre-Nal do Século. Assim, já teria alguma identificação. Só que há uma história estranha envolvendo essa passagem do atacante Diego Aguirre pelo Inter, uma briga no vestiário envolvendo até o presidente da época, o Pedro Zachia. Mas isso é o de menos, porque o que vale é o hoje.

Pelo enfoque financeiro, outra vantagem de Aguirre: ele sua comissão técnica vão custar pelo menos que a metade da anterior.

Nada disso, porém, reduz o risco que é começar temporada com um técnico que é bem diferente daquele que se pretendia inicialmente, mandando a convicção – se é que havia – para o espaço.

E fazer futebol sem convicção é o primeiro passo para o fracasso.

Pau que nasce torto vira lenha.