Dunga e o prato de comida

Dunga, quando acuado e pressionado, reage com truculência. Grossura mesmo. Quem acompanha sua trajetória sabe disso. Na hora do sufoco, sai o técnico que se esforça para ser simpático, e entra o volante que não levava desaforo pra casa.

No Gauchão, ano passado, ele atacou o tribunal esportivo da Federação do Noveletto de forma acintosa. Levantou suspeições sobre arbitragens, mesmo sendo favorecido. Lobo com pele de ovelha.

Agora, depois de uma série de vitórias e algumas boas atuações, Dunga voltou a mostrar os dentes e o quanto convive mal com a crítica, com os revezes.

A derrota para a Colômbia foi como um soco no estômago do treinador da Seleção Brasileira. Primeiro, ele reagiu como faz a maioria dos treinadores brasileiros. Culpou a arbitragem.

Depois, como não tem humildade para reconhecer seus erros, culpou o adversário:

– Os colombianos pareciam jogar por um prato de comida.

Uma agressão estúpida. Se o Brasil jogasse sempre por um prato de comida talvez fosse imbatível, independente do treinador. Talvez até tivesse vencido a Colômbia.

Dunga poderia ter admitido que convocou mal e de maneira muito estranha. Poderia assumir que escalou mal, que posicionou o time de forma equivocada. Poderia até elogiar o empenho e a bravura dos colombianos. De vez em quando é saudável reconhecer o mérito do outro.

Mas aí não seria o Dunga que todos nós conhecemos.

Como se não bastasse, Dunga conseguiu incutir nos jogadores o sentimento de perseguição que faz parte de sua natureza desde a Copa do Mundo de 1990. O mundo desabou sobre o cabeça do então jovem e valente Dunga. Desde então, Dunga não disfarça sua mania de perseguição. Todos estão contra ele; todos querem derrubá-lo; a imprensa é mal-intencionada, etc. Sempre há uma armação contra ele.

Percebi isso quando ouvi o Daniel Alves dizer, depois do jogo, que o Brasil está sozinho na América do Sul, onde todos falam espanhol. O Brasil está isolado. Por isso, pode ser vítima de arbitragens suspeitas e de adversários rancorosos e invejosos.

Identifiquei ali, naquelas palavras, o jeito Dunga de ser.

Estão todos contra nós, precisamos nos unir. Imagino o Dunga esbravejando no vestiário, cuspindo fogo como um dragão ferido.

É o Dunga lutando contra um velho fantasma que ele não consegue exorcizar.

A continuar assim, ele viverá outra ‘era Dunga’, agora como técnico de futebol.