Que venham os argentinos…

Aos 7 minutos de jogo Luan fez o gol ‘vai nanar secador’. Bola enfiada por Arthur para Bruno Cortêz, que foi para cima do marcador sem medo de ser feliz, cruzou rasteiro para trás. Um equatoriano distraído rebateu mal e a bola sobrou logo pra ele, o craque gremista. Luan tentou colocar no canto direito, mas aí apareceu a ponta da chuteira de um equatoriano desesperado, que desviou e tirou o goleiro da fotografia.

Com o gol tão cedo, o Grêmio tranquilizou sua torcida, agitou os equatorianos nas arquibancadas e perturbou os que estavam em campo. O Barcelona de Guayaquil realmente sentiu o gol. A intenção era vencer sem levar gol em casa, em função do gol qualificado que vale nesta etapa.

Seus jogadores erraram lances fáceis, dando a impressão de que se trata de um time ruim e desentrosado. Não é. É um time equivalente ao River Plate e ao Lanus, e faço questão de frisar isso porque já ouvi gente detonando o Barcelona, talvez (ou certamente) até na intenção de diminuir o grande resultado tricolor.

Lembrando: o Barcelona eliminou Palmeiras e Santos.

Eu acreditava num bom resultado: empate com gol ou mesmo uma vitória. Nosso amigo Copião chegou a escrever que seria 2 a 0, demonstrando toda sua confiança e todo seu otimismo, mas um otimismo fundamentado no fato de que depois de longo tempo Renato teria de novo sua força máxima atual (sem Maicon e Douglas).

O que eu duvidava é que poderia ser uma vitória sem dor, sem sofrimento. Aos 20 minutos , cobrando falta de forma impressionante, Edilson fez 2 a 0, um gol pra relaxar gremista e pirar os secadores, aqueles que insistiram em ficar diante da TV depois do gol de Luan.

O Barcelona criou algumas situações de gol. Foi aí que ficou muito claro o nível de tensão e nervosismo de seus jogadores diante do quadro que estava posto. No início do segundo tempo os equatorianos não descontaram por muito pouco.

Aos 3 minutos, Ariel chutou à queima roupa, de dentro da pequena área. E aí o goleiro “jacaré”, “braço de motorista de kombi”, ou seja, “braço curto” mostrou toda sua agilidade, experiência e reflexo (além de braço longo) para impedir o gol que poderia reverter completamente o jogo.

Foi a defesa mais espetacular do ano.

O Grêmio viveu momentos de pressão, tinha dificuldade para armar contra-ataques. A zaga esteve perfeita, os laterais deram conta do recado também como defensores. Joilson (que muitos execraram tempos atrás enquanto eu o defendia briosamente), Arthur e Ramiro foram incansáveis no combate e até se arriscaram ofensivamente, fazendo um revezamento nessas investidas.

Acima de todos eles, o maestro Luan. Ele teve um começo vacilante, mas não custou a sentir a temperatura do jogo, o que foi determinante para a vitória. Aos 6 minutos do segundo tempo, logo depois da espetacular defesa de Marcelo Grohe, Luan deu o golpe mortal. E foi aí que ele apareceu inteiro, o velho Luan. Ele armou a jogada, lançou para Edilson, que foi ao fundo com muita técnica e cruzou rasteiro para trás (lance parecido com o do primeiro gol). Luan apareceu para concluir sua obra, marcando o terceiro gol.

Sim, Luan voltou, e com ele boa parte do bom futebol que o time apresentou neste ano. Provou o que eu e outros parceiros, apelidados de chapas brancas, tínhamos razão ao defender Renato enquanto outros o atacavam, responsabilizando-o pelo fato de o time ter perdido aquele futebol de toque, ignorando e desprezando o ‘fator Luan’.

As figuras mais apagadas do time foram Fernandinho e Lucas Barrios. Mas se não estiveram bem tecnicamente, com pouca participação ofensiva, foram úteis taticamente, ajudando a marcar e a preencher espaços quando o adversário tinha a bola.

Da metade do segundo tempo em diante, o Grêmio criou duas ou três chances muito claras de gol. Nesse momento o time já tocava a bola com qualidade. Michel, Léo Moura e o estreante Cícero entraram nos minutos finais e contribuíram para o toque de bola envolvente da equipe.

Com a classificação encaminhada, projeto agora uma decisão sensacional com o River Plate. Se for o River, que bateu o Lanus por 1 a 0, a final será na Arena. Se for o Lanus, será fora.

Os dois times se equivalem, mas um título em cima do River Plate tem outro peso.