Gago, a base e a Arena

A contratação de Léo Gago é intrigante. Trata-se um bom jogador, mas é daquele tipo que ao se chutar uma pedra saem dezenas iguais. Entre eles, alguns da categoria base do Grêmio.

Não posso acreditar que não existam uns dois ou três volantes e condições de aproveitamento no time principal. Aliás, o que mais aparece na base gremista é volante.

Está certo que Léo Gago é um jogador experiente. Mas se Fernando foi aproveitado e rapidamente se firmou, por que não pode acontecer o mesmo com outro guri do junior?

O Grêmio investiu pesado em dois atacantes, dois grandes atacantes. O time começará o ano com o que não teve durante todo este 2011 que já vai tarde: um ataque de qualidade.

Aí, na hora de contratar um segundo volante para jogar ao lado de Fernando, vem Léo Gago. Eu até gosto desse jogador, mas o momento não é de buscar jogadores medianos, e sim de contratar jogadores que cheguem para assumir a titularidade independente do treinador.

Jogador para compor o grupo deve ser buscado na base. Eu sei que a base do Grêmio neste ano obteve resultados medonhos, o que faz a gente ficar ainda mais intrigado. O que está acontecendo na base gremista? É incompetência demais? Outros interesses interferem na escolha e escalação de jogadores? Há carteiraço de empresários?

Se a base gremista não for reorganizada o Grêmio dificilmente poderá repetir a década de 90. Não tem como formar time vencedor somente com gente de fora. Quer dizer, até é possível, mas custa caro e o retorno não é garantido.

As categorias de base do Grêmio merecem tanta atenção quanto a Arena.

Não adianta ter uma casa maravilhosa se os inquilinos não estiverem à altura.

Retomando: o ataque titular está aí.

Mas e a defesa? E o meio campo?

É preciso pelo menos um grande zagueiro. Sorondo é uma aposta. Torço por ele, mas não sei se ele terá condições de jogar e de mostrar o futebol de sua fase pré-Inter. Então, que busquem um zagueiraço!

Eu sei que um investidor está disposto a bancar a contratação de Lugano. Mas o uruguaio está sendo sondado por outros clubes brasileiros, entre eles o São Paulo, que seria a sua preferência. Lugano seria perfeito.

E o meio? Douglas vai embora. Soube que ele rejeitou ir para o Palmeiras. Claro, com Felipão o furo seria mais embaixo. Jogador como Douglas Felipão leva na rédea curta.

O Grêmio deveria investir em Ibson, é o nome que me ocorre. Carlos Eduardo seria outro grande reforço

Paulo Pelaipe está trabalhando, mas o time que ele formou até agora não ganha é pra ganhar o Gauchão. E só.

INTER

No Inter, a impressão que se tem é que a direção está satisfeita com o time que tem para disputar a Libertadores. Dagoberto é uma excelente contratação, mas é preciso mais.

Os laterais são medianos, a zaga inconfiável. O ataque está ótimo e o meio é muito bom.

Sei que muitos colorados gostam de Kleber, mas a meu ver ele já deu o que tinha que dar. O ‘dono’ do seu passe, o empresário Sonda, quer colocá-lo em outro clube. Mas é difícil achar quem pague o que Kleber recebe no Inter. No final da história, ele acaba ficando, como aconteceu anteriormente.

Douglas e o Papai Noel

É só o que faltava. Os empresários de Douglas lançaram uma nota para criticar a direção do Grêmio em relação a uma eventual prorrogação de contrato do jogador, que vence no final de 2012.

Reclamam que declarações recentes de Pelaipe foram “ríspidas e agressivas, além de opiniões pessoais e pouco profissionais”. Pelaipe, que não nasceu ontem, sabe que o grupo que representa Douglas está se esquivando.

O que os empresários querem é fazer a vontade de Douglas. E a vontade de Douglas é, mais do que jogar no Corinthians, sair do Grêmio. Douglas não quer mais saber do Grêmio.

Os empresários estão fazendo mais ou menos o que o sr. Assis Moreira fez no caso Ronaldinho, década atrás. Ficam enrolando, enrolando, à espera de que o Grêmio se canse e por fim libere seu representado por preço vil, abaixo do mercado.

A jogada é parecida com a que fazem os representantes de Montillo, no Cruzeiro. O meia argentino, estimulado por seu procurador, também quer jogar no Corinthians. Montillo é a prioridade do Corinthians. Douglas é segunda opção. Para Douglas, que quer porque quer sair do Olímpico, não interessa que ele seja o segundo da lista, e que ele só irá para o time abençoado por Lula, pela CBF, pelas empreiteiras e BNDES se a negociação com Montillo fracassar.

Então, trata-se de um jogo muito simples, que tem como síntese fazer a vontade do jogador em detrimento dos interesses dos clubes aos quais estão vinculados, com contrato em andamento, salários e tudo o mais em dia.

Os empresários estão na deles. Não entro no mérito da questão. Agora, o que eles não podem é baixar o pau na direção que insiste em continuar com o jogador, mesmo sabendo que ele só ficará contrariado, com mais dinheiro no bolso e ainda assim contrariado. E jogador contrariado é capaz de chutar pênalti decisivo lá na marquise da arquibancada ou ser expulso ‘de graça’ em algum mais importante, deixando o clube na mão.

O que os empresários não podem é criticar Paulo Pelaipe, querendo passar a impressão de que o dirigente é que será culpado se Douglar não ficar. Eles insinuam claramente que se não houver acordo será por culpa de Pelaipe. Se Pelaipe pegou pesado é porque ele sabe que está sendo vítima de embromação. O que ele fez? Denunciou essa enrolação.

Então, Douglas terá de se apresentar dia 4 de janeiro e se fizer corpo mole será afastado para treinar em separado. É o que promete Pelaipe, no que faz muito bem. Os jogadores conquistaram uma série de vantagens com a Lei Pelé, que de quebra está deixando cada mais ricos os intermediários do futebol. O mínimo, agora, é que o jogador cumpra seu contrato com ética e dignidade.

Não quer renovar para tirar vantagem logo adiante, tudo bem. Faça isso, mas seja profissional até o último minuto do seu contrato.

O problema é que não tem como esperar esse comportamento de Douglas e da maioria dos jogadores, ainda mais se tem empresário por trás louco para fazer transferências e receber polpudas comissões.

O que precisa terminar é essa máxima de que jogador quando quer sair ninguém segura. Acho que tem que segurar sim, fazer com que cumpra o contrato até o fim, a não ser, é claro, que o clube tenha algum ganho expressivo em cima do rebelde.

Concluindo: acho que Pelaipe está conduzindo bem essa história envolvendo Douglas. Ele quer ampliar o contrato do jogador, que se esquiva, porque espera pelo Corinthians outro grande clube de São Paulo ou Rio.

Se não houver entendimento, Douglas, que já é um tanto roliço, fica sem jogar e em seis meses estará gordo igual a um Papai Noel sem a barba branca.

VICENTE

Faleceu o zagueiro Vicente. Ele estava no Santos quando Pelé se despediu na Vila Belmiro. Depois, veio para o Grêmio, onde se tornou três vezes campeão gaúcho. Ele jogou ao lado de Oberdan em 1977, quando o Grêmio interrompeu a hegemonia colorada no Gauchão. Pouco tempo atrás e o vi num programa de TV. Estava envelhecido, parecia mesmo muito doente. Cheguei a duvidar que era o mesmo Vicente. Era um profissional sério, bom zagueiro. Convivi com ele de 1979 a 1981, como setorista do Grêmio. Só por ter ajudado a quebrar aquele ciclo de vitórias coloradas merece todas as homenagens do Grêmio.

PRESENTE

Ainda envolvido com a busca de meus documentos, mas já com o carro recuperado (voltou com uma leve batida na dianteira), comemoro um presentinho de Natal: Escudero não fica. Parece que ele vai jogar seu futebol dispersivo e improdutivo no Atlético Mineiro.

Jogador desse tipo não pode ficar no grupo, porque ele acaba jogando. Melhor assim, que seja feliz.

Bem, feliz Natal a todos.

Um dia de cão

Meu dia de cão sarnento começou cedo. Oito da manhã comecei a ligar para o depósito de veículos de Alvorada. Meu carro, recuperado dos bandidos, estava lá. Ninguém sabia dizer em que estado. Afinal, ‘são dezenas de carros e motos recolhidos diariamente’, alguém disse.

Liguei para a delegacia, a 1ª DP. Um plantonista informou que o ‘carro estava bem, apenas com alguns arranhões, escoriações leves, nada grave. Vai se recuperar’. Ele falou, brincando, como se o carro fosse um enfermo.

– Bem, temos que dar alta nesse paciente – devolvi.

A orientação foi de que eu aparecesse na delegacia a partir das 14 horas, quando a perícia já teria sido feita. Antes de ligar, ele me disse o que seria preciso, cópia disso, cópia daquilo. Cópia da carteira de identidade. “Foi roubada”, eu disses, “serve o passaporte?”. Servia.

Bem, o mesmo passaporte serviu de entrada para o inferno que é conseguir uma segunda via da carteira de habilitação (também roubada) sem ter a carteira de identidade.

Eram umas dez horas quando ‘dei entrada’ no Centro da Protásio Alves, bairro Santa Cecília.

Antes um aparte: na véspera, no Centro da Ramiro, onde fiz a minha primeira tentativa,  haviam me informado de que eu precisaria de um documento meu com foto. O ideal seria a Carteira de Identidade. Mostrei o BO da polícia, com todos os meus dados, mas não adiantou. Eu deveria, mesmo, voltar com um documento com minha foto, e poderia ser o passaporte. Sem isso, nada de segunda via.

Está bem, os burrocratas precisam justificar seus salários e sua obstinação em ferrar com o contribuinte, esse sujeito infeliz que paga impostos para sustentar essa máquina pachorrenta, cruel e insaciável.

Isso foi na quarta-feira, à tarde, no dia seguinte ao roubo do meu carro.

Então, quando ingressei em outro CFC, o da Protásio, que era mais no meu caminho, estaca tranqüilo que não haveria problema.

O passaporte, atual, feito este ano, reúne todas as condições de substituir uma carteira de identidade. Afinal, é um documento aceito em qualquer país, não teria por que o Detran rejeitá-lo.

É o que eu pensava.

Não, passaporte sem os nomes dos pais não serve – disse a simpática atendente. Vocês já notaram que todas as atendentes são simpáticas e sorridentes na hora em que dizem que um não, que falta um documento, uma assinatura, uma cópia autenticada. Elas parecem felizes em nos deixar irritados, frustrados, revoltados. Para isso, contam com o apoio fundamental dos burrocratas, que fazem de tudo para facilitar a vida deles, não dos contribuintes.

– Ah, mas não se preocupe, o sr pede a carteira de identidade e depois vem aqui encaminhar a carteira de habilitação -, ela diz toda meiga, querendo transmitir solidariedade.

Assim, por cima, vou ficar uns 12 dias sem poder dirigir. Tudo porque a minha carteira de identidade foi roubada e o passaporte, aceito até na China, não serve para o Detran.

Imaginem um trabalhador autônomo, um vendedor, sem poder dirigir por tanto tempo por causa de uma frescura dessa. Quem vai pagar suas contas? Os burrocratas?

Um documento federal não é aceito por um órgão estadual, aquele mesmo que há alguns anos ocupa manchetes das páginas policiais e políticas.

A carteira de trabalho também não serve. Ah, o modelo novo serve. Eu que sou antigo não conheço o modelo novo. Duvido que trabalhadores na faixa dos 40 anos tenham a nova carteira.

Portanto, o contingente de trabalhadores que não podem usar a carteira com o intuito de pedir uma segunda via (eu disse, segunda via, não a primeira) da carteira de motorista, é enorme.

Eu e toda essa gente somos discriminados. Entre nós há muita gente mais velha. E o estatuto do Idoso?

A carteira do Trabalho, documento federal, também não é aceito pelo Detran, com exceções para os documentos mais novos.

Quero ver essa gente rejeitar o passaporte e a carteira de trabalho por escrito…

Ah, soube que o passaporte serve como documento para participar até de concurso público. Mas não é aceito pelo Detran.

Isso tem que acabar.

Depois, à tarde, meu inferno continuou. Fiquei mais de quatro horas em Alvorada (precisaria mais umas 50 linhas para contar o que houve). Mas consegui recuperar o carro. Realmente, ele tinha leves escoriações.

Mas sobreviveu.

Espero que eu também sobreviva enredado nesse cipoal burrocrático em que a carteira de identidade é a base de tudo.

Sem ela, eu sinto que não existo nesse mundo dos burrocratas sarnentos.

Eu penso que nós levarmos adiante esse tipo de protesto poderemos mudar esse estado de coisas. Ou então teremos de conviver com isso até o final dos tempos.

Eles são muitos e determinados em infernizar a nossa vida.

Meu segundo assalto

Uma hora atrás eu estava na 10ª DP, no Bom Fim, registrando um assalto. Dois bandidos armados levaram meu carro. Foi a segunda vez. A primeira foi há uns três anos. Também levaram o carro, que nunca apareceu. Felizmente, eu tinha seguro, como agora.

O curioso que os dois assaltos foram no mesmo lugar: em frente a casa da minha ex-mulher, no bairro Rio Branco. Dá o que pensar…

Dei bandeira. Fiquei conversando com meus filhos em vez de ir embora rapidamente, como costumo fazer.

Quando vi, dois caras magrinhos, com jeito de assaltantes (um deles vestia uma camisa do Barcelona, bem folgada), um negro e outro mulato, cruzaram a rua em diagonal em nossa direção.

Meus filhos sinalizaram e pediram que eu entrasse no carro. Era tarde demais, pensei. Mesmo que entrasse eles me pegariam e talvez fosse pior por ter tentado fugir.

Éramos três, eles dois. Imaginei que talvez eles seguissem em frente para pegar uma vítima menos complicada. Ledo engano.

O neguinho magrinho, que parecia ter saído do filme Cidade de Deus, veio em minha direção, segurando um revólver prateado.

– Perdeu, perdeu – disse ele.

No primeiro perdeu eu o encarei. No segundo, olhei para o revólver.

Realmente, eu tinha perdido.

Me pediram a chave do carro, perguntaram se tinha bloqueador, eu disse que não. Pegaram minha carteira com os documentos, meu celular e minha máquina fotográfica com a fotos que eu havia tirado à tarde da Arena do Grêmio e pensava em publicar aqui no blog.

Ah, quando o mulato se preparava para entrar no carro eu vi o meu cachorro agitado no banco do passageiro. Perguntei se podia levar o cão, o Elvis. O mulato respondeu que sim, mas que fosse rápido.

O Elvis resistiu, não queria sair. Eu o puxei com força, ele escapuliu para o banco de trás.

O bandido reclamou: “Pega logo se não ele vai junto”.

– Posso abrir a porta de trás?

Foi aí que me dei conta que a situação começava a ficar cômica.

O assaltante respondeu que sim, mas que fosse ligeiro.

Eu me atirei pra dentro do carro e agarrei o bicho, que parecia assustado, certamente sentindo o clima de tensão no ar.

O mulato entrou no carro e perguntou de novo se tinha corta corrente. Repeti que não.

– Se tiver, eu volto aqui e acabo com vocês -, ameaçou.

E saiu dirigindo com dificuldade na arrancada porque é um carro com câmbio automático.

Ainda bem que tenho seguro.

Fica a lição mais uma vez: não dê bandeira na rua, ao lado do carro.