Antes de contratar um treinador, a direção deve ter muito claro o tipo de futebol que quer, o esquema de jogo, três zagueiros, dois zagueiros, meio-campo com dois volantes, dois meias, ou três volantes, e um meia. Quem sabe apenas um atacante de ofício? E por aí vai.
Para isso, precisa considerar também a tradição, a história do clube, sua torcida.
O presidente Duda afirmou depois do jogo contra o Flu que perfil de treinador é bobagem, é preciso ver o mercado e avaliar entre os disponíveis, e fazer a contratação. Tal afirmação explica em parte tudo o que acontece no Olímpico desde o ano passado.
Depois de escolher uns nomes, o dirigente deve conversar com cada um deles e dizer o que o clube espera dele, o técnico. Pode ser coisa rápida, tipo:
– Vc sabe a diferença entre o Avaí e o Grêmio?
Depois, se a resposta for convincente, expor que quer o seu time jogando no 4-4-2, com dois laterais que marquem e apoiem com qualidade e velocidade;
dois zagueiros de boa impulsão, autoridade, imposição física e velocidade;
no meio-campo, um volante mais posicionado, de boa técnica para não viver só de dar porrada, ágil, atento, obstinado e feroz como um pitbull esfomeado; mais dois volantes, que marquem de verdade, mas que saiam para o ataque rapida e decididamente, buscando o gol; mais à frente, um meia habilidoso, mas também aplicado taticamente, de preferência com bom chute, assim como os dois volantes.
Na frente, dois atacantes rápidos, ao menos um deles muito habilidoso, o outro deve ter um porte mais avantajado para o confronto com a sanguinária zaga inimiga.
E por aí vai, com alterações aqui e ali, mas sem perder o rumo de que é preciso antes de qualquer coisa um time com raça, determinação, incansável na busca da vitória, irresignado diante de eventuais adversidades, indignado.
Qualquer semelhança com o velho Grêmio não é mera coincidência.
É isso: o Grêmio precisa de um treinador que devolva sua identidade, perdida desde que Paulo Autuori assumiu.
Renato Portaluppi será esse nome? A direção gremista conversou com ele, ficou convencidade de que ele pode colocar o time de volta ao seu lugar.? Ou é apenas um pensamento mágico, um lance de marketing, um ato de desespero?
Se a direção realmente acreditasse em Renato, por que ele não foi contratado no ano passado no lugar do Silas. Ou, melhor ainda, quando Roth foi demitido em plena Libertadores?
E se Renato não vier, o que é provável? Eu, fosse ele, um ídolo, não viria neste momento pra não me queimar.
Só me chamam na hora difícil? Chego aí e tenho que trabalhar com os jogadores indicados e/ou aceitos pelo técnico anterior?
Eu, se fosse Renato, não viria. Renato não é bobo, não vai embarcar nessa nau desgovernada.
Mas se Renato vier, não duvido que dê conta do recado, porque é um bom treinador, já provou isso, apesar de opiniões em contrário, algumas sem qualquer fundamento.