Falcão, com toda a sua experiência como comentarista de futebol, deveria ser mais habilidoso que o Renato no trato com a imprensa.
Os dois são afáveis com a imprensa. Tratam os jornalistas com respeito, com consideração. E não fazem mais do que a obrigação, mesmo que um ou outro possa fazer perguntas mais embaraçosas, maliciosas ou repletas de terceiras e quartas intenções.
Cabe ao entrevistado mostrar jogo de cintura para sair das enrascadas.
Por exemplo, Falcão foi ingênuo ao afirmar que o atual time colorado não tem condições de brigar pelo título. Ele não disse nada de mais, falou a verdade, mas falou uma verdade que deve ficar restrita ao vestiário.
A meu ver, pegaram pesado demais com Falcão.
Hoje, na coletiva de imprensa, Falcão mudou seu modo de tratar os ex-colegas, que em breve voltarão a ser colegas de novo. Foi mais lacônico nas respostas. Antes falava como se estivesse ainda na Globo, mas sem o Galvão Bueno do lado, porque este não deixa ninguém falar muito.
O Falcão de hoje quase me lembrou o Chico Spina. Eu era setorista do Inter em 1979. Os repórteres detestavam entrevistar o Chico. Ele respondia sim, não, talvez, quem sabe. E o repórter ficava ali com o microfone na mão esperando que o Chico desenvolvesse mais.
Falcão não chegou a tanto, claro. Essa fase dele passa, porque está na natureza do Falcão ser assim verborrágico. Ele sempre foi bom de entrevistas como jogador, e aperfeiçoou esse dom na imprensa.
Enquanto isso, o Renato mantém o seu estilo, meio brincalhão, meio sério, tanto nas horas boas como nas ruins.
Falcão parece sempre mais racional, Renato mais emotivo.
Hoje, ao ser questionado sobre as chances do Grêmio no Brasileirão, Renato, com a vantagem de conhecer o que houve com seu colega, foi esperto, deu um drible na imprensa.
– Isso é vocês que podem dizer.
Eu não estava lá, mas se o Renato me perguntasse o que eu penso, responderia que as chances do Grêmio estão aumentando consideravelmente.
Primeiro, porque não há nenhum grande time despontando. O Santos é o melhorzinho, mas se vencer a Libertadores terá outras preocupações.
Segundo, porque a direção gremista está reforçando o time. Deveria ter feito isso em janeiro para a Libertadores, mas, enfim, nada é perfeito.
Victor; Gabriel, Mário Fernandes, um xerifão castelhano e Neuton (Lúcio;
Gilberto Silva, F. Rochemback, Marquinhos e Douglas;
Leandro e Miralles – ou Miralles e André Lima –
Temos aí um time capaz de brigar pelo título. É claro que Miralles ainda precisa confirmar, e há necessidade de mais um atacante de muita qualidade.
Se Renato escorregasse na casca de banana como Falcão, ele com certeza responderia que é preciso qualificar mais o time.
E, a exemplo de Falcão, estaria absolutamente certo.
Mas isso não é coisa que um treinador possa dizer publicamente sem que o mundo caia sobre sua cabeça.
Pelo menos é assim aqui nesta terra onde tudo é tratado na ponta da faca.
Pelo visto, Renato tem o que ensinar a Falcão.