Vou torcer pelo Julinho Camargo. Afinal, é um sujeito trabalhador, mais de 20 anos no futebol, sempre à espera de uma grande oportunidade.
Agora, não acredito que ele vá dar certo como treinador do Grêmio. Sua experiência com treinador de equipes profissionais é quase zero.
Com tanto tempo de futebol é lógico que aprendeu alguma coisa, muita coisa, não duvido disso.
Ele deve ter suas qualidades para ser lembrado pelos doutos do futebol tricolor. O problema é que durante os cinco anos em que Julinho trabalhou na base gremista ninguém as percebeu, ao menos a ponto de cogitar seu nome para assumir o time principal. E oportunidades para isso não faltaram.
Por falar em cogitação, Julinho era uma carta tão fora do baralho que ninguém sequer murmurou seu nome. E quem o fizesse, num bar, numa roda de samba, numa redação de jornal, num velório ou num aniversário, seria logo taxado de louco. Ou de colorado querendo afundar o Grêmio.
O curioso é que agora, depois do baque inicial que todos sofreram, leio alguns articulistas de respeito referendando a contratação do auxiliar de Falcão. Não falta sequer um ‘tem o perfil vencedor do Grêmio’.
Uma coisa é vencer nas categorias de base, outra muito diferente é subir e trabalhar com as cobras criadas pronta pra dar o bote, gente malandra, com estrada e normalmente sem a mínima vontade de assimilar novos conceitos, ensinamentos, porque pensam que já sabem de tudo.
Ouvi a entrevista coletiva de Julinho. Percebi que parecia intimidado, o que é até aceitável diante das circunstâncias, mas não senti muita firmeza. Acho que ele será atropelado no vestiário.
No artigo anterior escrevi que a direção gremista usava a tática do bode fedorento na sala, lançando vários nomes detestados pela torcida, para mais adiante anunciar o rejeitado Celso Roth, mas que acabaria sendo recebido com alívio.
Não veio Celso Roth, mas veio aqueles que muitos consideram (como o meu amigo Francisco Coelho) um filhote do Roth.
Vou torcer pelo Julinho Camargo, até porque seu fracasso vai colocar o Grêmio no caminho da segundona, e agora não dá mais para chamar Renato Portaluppi, como aconteceu no ano passado.
Vou torcer pelo Julinho. Mas convencido de que foi um erro monumental dessa direção, um erro que pode custar muito caro.
Como dizia o velho Dino Sani: o futebol é mesmo uma caixinha de surpresas.
Depois dessa, só mesmo uma Kidiaba, escura e encorpada, para atenuar o frio e esse misto de indignação e perplexidade.