O Sagu, Renato e Victor

 

No ano passado, dia 24 de agosto, escrevi o texto sobre minha sobremesa preferida (está mais abaixo), ‘inspirado’ pela crise técnica que atingia o Grêmio, que lutava para afastar o fantasma do rebaixamento. Renato Portaluppi recém havia chegado. Nove entre dez gremistas estavam em pânico. Eu me incluía entre os nove.

Optei, então, por um assunto mais ameno, mais saboroso. Repito a dose agora.

Enquanto sonho com um bom sagu, reflito sobre quanto é ruim estar nas mãos de Celso Roth.

E quanto mais eu penso sobre isso, mais sinto saudade do Renato. Quando ninguém mais acreditava, ele conseguiu fazer aquele time jogar. Não disseram que era impossível, por isso ele foi lá e fez.

Meses depois, Renato passou de herói a vilão. Ele pagou uma conta que era dos dirigentes. Boa parte dos torcedores foram na conversa de que era possível tirar mais do time, que Renato estava inventando (como não improvisar quando há falta de material humano?), que Renato era ofensivista, quase irresponsável.

Renato, como qualquer treinador, só mexe no time que está ganhando em função de lesão e suspensão. Infelizmente, neste ano o time nunca engrenou.

Renato foi embora. Veio Julinho, o bode na sala para preparar a volta de Celso Roth, conforme previ aqui. Com Roth, Pelaipe.

O time continua sem ataque, a defesa continua uma peneira (mas não era culpa do ofensivista Renato, como muita gente defendeu, inclusive o presidente do clube?) e o meio-campo não acerta o passo.

O Grêmio está de novo flertando com o rebaixamento à segunda divisão.

E agora já não tem Renato pra apagar o incêndio.

Renato está muito ocupado em salvar o Atlético Paranaense. 

Mas, quem sabe?

A arte de saborear e identificar um bom sagu

É preciso uma certa técnica em tudo na vida. É preciso arte, um tanto de requinte até para as coisas mais prosaicas, mais simples.

Até para comer sagu é necessário, fundamental, uma certa sutileza, apreço a detalhes que normalmente dispenso para qualquer outro tipo de alimento, salgado ou doce.

É que o sagu é a minha sobremesa preferida. Cheguei a essa conclusão depois de meio século de vida. Passei por outras preferências. Arroz de leite e pudim de leite condensado são dois exemplos. Já estiveram no topo. Hoje, é o sagu. Com creme de baunilha, claro.

O problema é que o sagu virou uma obsessão. Entro no restaurante e vou direto ver se tem sagu. Quase todos tem. A maioria, porém, é desprezível.

Só pela cor já percebo que o sagu é ruim. O creme precisa ser… cremoso. Nem muito consistente, nem muito líquido.

O sagu bom tem cor escura, cor de vinho tinto. Já vi até sagu de refresco de uva. Um acinte, uma agressão.

Depois de avaliar a cor, analiso a consistência. A parte líquida deve ser cremosa e as bolinhas firmes, mas macias. O sagu deve, obritatoriamente, exalar um aroma de vinho. Caso contrário, me afasto.

Um sagu bom é também sinalizador de um bufê de sobremesa de qualidade, o que é válido inclusive para o bufê de saladas e de pratos quentes. Um sagu ruim, obviamente, aponta para o oposto.

Quem fizer o teste verá que tenho razão. Sagu bom é sinal de refeição boa.

Para saborear devidamente o sagu que passou no teste visual e de olfato, é preciso saber servir-se de modo adequado.

Eu ensino: pegue o pote (não pode ser pires, de jeito nenhum), coloque sagu até quase em cima. Depois, uma colher de sopa, ou duas, de creme. Eu costumo afastar aquela película mais sólida que se forma na superfície do creme. Se não der, vai assim mesmo.

Agora vem o momento especial, o ápice, é como o atacante na cara do gol. É preciso jeitinho, uma técnica apurada para degustar o manjar que está à frente, indefeso como um goleiro diante do goleador.

Nesse momento eu sou o goleador.

É imperdoável misturar o sagu com o creme, dando voltinhas com a colher, como tem gente que faz com o prato feito.

Mergulhe a colher no sagu e depois no creme, nesta ordem. O creme não pode ocupar mais do que 30% da colher. Eu costumo ficar nos 20, 25 por cento.

Bem, aí chegou a hora de avaliar o sabor. Normalmente, seguindo os passos referidos, não haverá decepção.

Se tudo der certo, é só mandar ver e ir pra galera.

SAIDEIRA

Mano não convocou Victor. Ele agora não é mais goleiro de seleção. Pode ir para a reserva.

Pronto. Victor vai pro banco, Marcelo assume. Tudo vai mudar. A defesa vai afastar todas; o meio vai ser forte e criativo; e o ataque fará gols em profusão.

Ufa, que alívio! Assim, não precisarei mais escrever sobre sagu.

Acho que ainda podemos buscar uma vaga na Libertadores.