A novela Escombros, que narra as desventuras do Inter para reformar o seu estádio em parceria com a Andrade Gutierrez e com respaldo do Banrisul, é quase um ménage à trois. O banco foi convidado, mas não quis participar do leito nupcial, onde os parceiros vivem entre tapas e beijos.
Seria um enredo sexual, onde um parece querer ferrar o outro, enquanto o terceiro se esquiva, mas está muito mais para uma novela de mistério.
A empreiteira, que é a terceira maior do país -atrás da Odebrecht e da Camargo Corrêa-, mas com diferença mínima, decidiu atazanar a vida do Inter. Por que? É aí que está o mistério.
A AG, segundo o jornal O Globo, em matéria de maio do ano passado, divide com a Odebrecht, C. Corrêa e Queiróz Galvão, a bagatela de R$ 138 bilhões em obras realizadas no país. As quatro trabalham praticamente apenas com dinheiro público -federal, estadual e municipal. A AG tem 72% do seu faturamento oriundo do setor público.
A empreiteira, que é maior do que a OAS, teria faturado no ano passado R$ 10 bilhões. E agora se mixa para bancar os R$ 250 milhões necessários para concluir o Beira-Rio. Mistério.
Parece evidente que a AG verificou que seu lucro será pequeno, ou que o risco de ter prejuízo é grande, mas como é que só agora se deu conta disso. Foram meses de negociações. Não posso acreditar que de repente a AG se deu conta de que o casamento com o Inter é uma furada. Com toda a sua experiência, a AG não teria fechado um acordo dessa natureza se não tivesse visto vantagens significativas no negócio.
Ao não apresentar as garantias exigidas pelo Banrisul, a AG sinaliza que quer cair fora, mas que pode seguir jogando se conseguir mais vantagens, mais ou menos o que obteve a OAS recentemente para levar adiante o projeto Arena.
O Inter está como o sujeito que espera a noiva no altar. Ela não chega nunca. Começa a bater o desespero.
O presidente Giovani Luigi já dá sinais de que percebeu que entrou numa enrascada sem tamanho. Um nó difícil de desatar. Está nas mãos da AG, refém de uma das maiores empreiteiras do Brasil, que, se quisesse, concluiria o estádio com dinheiro próprio, mas aí não seria a AG, que, como suas ‘concorrentes’, só brinca com dinheiro dos outros, de preferência, dinheiro público.
O pior, para Luigi, é que um final infeliz nessa novela pode refletir no futebol, comprometendo a Libertadores.
E, sem a AG, como vai ficar o estádio colorado?
Não queria estar na pele do Luigi.
Ainda mais que a Copa pode parar na Arena.