Ainda às voltas com a mudança, situação agravada com o início de uma reforma, começo a perceber devagarinho aonde eu fui parar. O vizinho da casa da frente e seus filhos, mais ou menos meia dúzia, são colorados. No prédio do lado direito, de quatro apartamentos, desconfio que são todos colorados. Ontem, contra o Cruzeiro, cheguei a imaginar que o Inter disputava o título da Libertadores tamanha a gritaria a cada gol ou ameaça de gol.
Lá pelas tantas, tirando as tralhas das caixas (o que eu tenho de coisa que eu não via há décadas é um absurdo. Até minha carteirinha de sócio do Grêmio dos anos 70 eu achei), em meio a algaravia (vou começar a fazer como alguns colunistas, que escrevem garimpando palavras pouco usuais no dicionário) oriunda dos meus ruidosos vizinhos, ouvi uma expressão que me deixou boquiaberto e, por segundos, paralisado, estanque.
– Esse time é o Barcelinter!
Será que ouvi direito? Barcelinter? Pensei com meus botões, sacudindo o pó de uma flâmula com os dizeres ‘Grêmio, Campeão Mundial de 1983’.
– Inter agora é o Barcelinter!, repetiu o tresloucado torcedor, provavelmente após alguma jogada maravilhosa contra o pobre Cruzeirinho (sacanagem essa de tirar os pontos) do meu amigo Ernani Campello.
Eu confesso que já havia detectado um excesso de entusiasmo por parte de alguns colorados amigos e parentes, principalmente depois do primeiro tempo do jogo contra o poderoso Once Caldas dentro do Beira-Rio. Eu disse ‘primeiro tempo’, não foi nem o jogo todo.
Minha tinha Loni saiu do Beira-Rio nas nuvens naquela noite. Telefonou para dizer que o Inter era uma academia de futebol, jogava por música. Ela e outros tantos colorados estão encantados. O mesmo deslumbramento percebo em setores da mídia. Daqui a pouco vão se derreter:
‘O Inter não joga, o Inter dá show.’
‘O Inter não deve cobrar ingresso, mas sim couvert artístico.’
Oscar, pelo que tenho lido e ouvido, está jogando muito. Ainda não ouvi alguém dizer que ele é o Messi do Inter, mas esse dia irá chegar, ah vai. Por muito menos, um colunista comparou Taison a Messi tempos atrás. O papel e o microfone aceitam tudo.
Bem, quando alguém gritar que Dorival Jr é o Guardiola brasileira eu fecho o boteco, suspendo a produção da imbatível 1983, e vou me dedicar ao cultivo de begônias, tulipas e orquídeas.
Inter agora é o Barcelinter, ou será Interlona?
O que não faz um campeonato gaúcho…
CALOR
No ano passado, ou foi no retrasado, já nem sei, o Sindicato dos jogadores de futebol do RS conseguiu impedir a realização de jogos em determinados horários em função do calor. Ganhou uma baita vitrine. Foi imitado até em outros Estados. Sábado, teremos jogos com temperatura beirando os 40 graus. E aí?
MICO
Qual o maior mico do ano na temporada de contratações. Eu imaginava que nada iria superar a viagem dos três patetas, digo, dos três dirigentes à Europa para contratar Giuliano. Mico porque quando o dirigente já negocia há algum tempo e depois cruza o Atlântico é para fechar negócio. Quando vão em três, então, é pra trazer nem que seja a força. Os três turistas, digo, três dirigentes, voltaram constrangidos, mas certamente prontos para outra. Afinal, quem banca é o clube.
Bem, o Inter não ficou atrás. O clube praticamente anunciou a contratação do Rafael Toloi. O zagueiro desembarcou em Porto Alegre, deu entrevistas e tudo mais. Só faltou vestir a camisa rubra. Sobraram elogios para Fernandão, que, graças à sua ligação com o Goiás, teria conseguir contratar um jovem e promissor zagueiro, inclusive vencendo a disputa com o Grêmio. Fernandão foi festejado. ‘Isso sim é que diretor de futebol remunerado”, ouvi dizer. O constrangimento mudou de lado: Toloi não vem mais.
Qual o maior mico? Acho que dá empate.
GRÊMIO
Não escrevi nada sobre o Grêmio porque estou ficando apavorado. Se Facundo e Souza não derem certo, adeus Copa do Brasil. Sem meio de campo não tem como conquistar algum título, nem mesmo o Gauchão.