Eu nunca votei à presidência do Grêmio.
Na época em que fui sócio pela primeira vez, em meados da tenebrosa década de 70, antes de ser jornalista esportivo, as coisas eram decididas em gabinetes fechados.
Na verdade, não mudou muito. Os mesmos continuam decidindo, só que agora com a possível participação dos associados.
Por enquanto, eu fico aqui como o mendigo esfomeado espiando pela vidraça a comida fumegante chegando à mesa no restaurante lotado.
Depois, se eu tiver sorte, me servem um prato pronto.
Não é exatamente o que eu gostaria, mas é melhor do que terminar a noite com barriga vazia enquanto os comensais se empanturram, entre goles de vinho e cerveja, e depois comemoram, às gargalhadas, com espumantes nobres.
O que me resta é ficar na expectativa do prato feito.
São quatro chapas na disputa. A chapa da Situação já está classificada para disputar os votos no pátio do Olímpico. Tem um contingente numeroso de conselheiros na mão.
As chapas de Oposição, se é que assim podem ser considerados seus integrantes, antigos parceiros dos ocupantes do poder que se aproximam e se afastam dependendo das circunstâncias, abafando a possibilidade de surgimento de novas lideranças, disputam para ver quem irá buscar a preferência dos sócios, entre os quais, eu.
Faço parte dos milhares de sócios com mensalidade em dia. Como qualquer um, quero votar.
Se isso não acontecer, será porque as chapas desafiantes não conseguiram superar a cláusula de barreira, instrumento criado para impedir que um gremista sem apoio de conselheiros – praticamente todos ligados a dirigentes que há décadas se revezam no comando do clube – tenha a pretensão de disputar, democraticamente, os votos de seus pares, os sócios.
Torço para que aconteça o ‘segundo turno’.
Mas, sinceramente, com a ‘oposição’ dividida, mais forte ficou a Situação. O quadro só irá mudar se algumas ovelhas se desgarrarem do rebanho.
Desconfio que vou continuar de fora dessa festa.
Sem sequer o prato feito.