Nem o monumental orgulho que senti ao ver o time do Grêmio, com um jogador a menos, acuar o Fluminense, o campeão brasileiro, dentro de sua casa, como o gato encurralando o camundongo, consegue atenuar minha indignação com a atitude de Marcelo Moreno.
A primeira coisa que pensei na hora: 30 minutos antes a TV havia mostrado o Moreno na casamata, com cara de sono. É natural, havia jogado na véspera pela seleção boliviana e viajado às pressas. Será que ele foi obrigado a compor o banco? Estaria ele contrariado?
Eu só posso atribuir a uma eventual contrariedade a expulsão em menos de um minuto. Sem tocar na bola, sem tempo para ter atrito com algum adversário, é inaceitável a sua irresponsabilidade. Em sua primeira participação, uma cotovelada no adversário, Rafael Sobis.
Fosse o temperamental Kleber, que estava apanhando sem que o juiz marcasse falta sobre ele, eu até entenderia. Não aceitaria, mas seria capaz de entender. Mas o Moreno?
Então, cheguei à seguinte conclusão: jamais poderia ser dirigente de futebol.
Moreno me lembrou Borges, que foi expulsão em jogo pela Libertadores dentro do Olímpico, assim como quem provoca, pedindo para sair e prejudicar o clube.
Borges, fosse eu dirigente, nunca mais vestiria a camisa do Grêmio. O mesmo com Marcelo Moreno. Nunca mais vestiria a camisa do Grêmio.
É claro que o clube seria prejudicado, porque Moreno é um grande atacante e tem toda uma sul-americana pela frente.
Como dizem os doutos do futebol, eu estaria punindo o clube. É por causa desse time de raciocínio que os jogadores, de modo geral, se sentem à vontade para todo o tipo de ação prejudicial ao clube que os paga, em alguns casos de forma absurda, algo como um tapa na cara do trabalhador comum.
Moreno, se dependesse de mim, voltaria de ônibus. Mas é claro que os advogados espertos usariam isso contra o Grêmio. Então, ele voltaria de avião, sentado na janelinha. Tudo bem. Mas passaria a disputar a Taça Hélio Dourado ao lado de Wangler, Douglas Grolli e outros.
E ficaria assim até o final do seu contrato, ou da minha demissão, o que viesse antes. É lógico que eu seria demitido em pouco tempo, porque logo os torcedores, os mesmo que hoje estão revoltados com a atitude de Moreno, estariam pedindo a sua volta e, de quebra, a minha cabeça. Não culpo os torcedores. O futebol é assim.
Por isso, eu nunca poderia ser dirigente de futebol.
Sou absolutamente intolerante com certas coisas.
Por outro lado, todos aqueles que enfrentaram o Fluminense com dignidade, valentia, abnegação, mesmo cometendo erros técnicos, seriam premiados, fosse eu dirigente de futebol, com aumento de salário assim que pisassem no vestiário após o jogo.
Com exceção de Moreno, todos os outros jogadores dignificaram e honraram o Grêmio e sua história.
Merecem, portanto, meu aplauso, meu reconhecimento.
O JOGO
O Grêmio mereceu vencer. Seu gol saiu de uma jogada com bola rolando, penetração, qualidade. O árbitro deveria ter punido quem fez a falta com cartão amarelo, ou até o vermelho. Mas o juiz, o Ricci, deve ter pensado: já fiz demais ao marcar essa falta contra o Fluminense. E o Luxa ainda quer cartão, aí já é demais.
Elano foi sábio, mágico, e marcou um gol que só os craques costumam ter a frieza e a qualidade para marcar.
O Flu empatou com gol de cabeça, em cobrança de escanteio. Depois, Sobis, com o pé esquerdo, que nem é seu preferido, marcou de longe. Marcelo Grohe falhou. Por falar em falha, o que foi aquele lance logo no início em que o Pico lançou pra área e a bola bateu no travessão? Seria o frango do campeonato.
Aí, quando se pensava que com Moreno o Grêmio poderia buscar o empate e a vitória…
O árbitro deve ter ficado feliz e aliviado quando mostrou o vermelho, muito justo, para Marcelo Moreno, o melhor atacante do Grêmio no Brasileirão.
Morriam ali as chances de o Fluminense perder.
VIRADA
O Inter segue acumulando vexames no Brasileirão. Perdeu de virada para o Figueirense em pleno Beira-Rio. O time armado por Fernandão levou seis gols de lanternas do campeonato em dois jogos seguidos.
Quando escrevo estas mal traçadas linhas Fernandão ainda é treinador.
Talvez até seja mantido, até pra economizar alguns trocados. O time já não ambiciona nada no campeonato. Tem eleição. Não dá nem para planejar a próxima temporada.
O mais interessante é que o titular do futebol, Luciano Davi, que afastou Dorival Jr junto de Fernandão, então diretor de futebol, ainda estaria cotado para ser presidente colorado.
Os indícios são de que o Inter hoje começa a ser tornar o Grêmio de ontem.