Existe algo mais no ar do que aviões de carreira, diria o gaúcho Barão de Itararé, um dos maiores frasistas brasileiros, a respeito do que acontece no futebol gaúcho.
Quem costuma acompanhar o noticiário esportivo percebe nas entrelinhas e até mesmo nas linhas com nu frontal que uma parte muito manjada da crônica esportiva está angustiada, nervosa, tensa, inquieta, apavorada mesmo diante de algumas possibilidades, todas relacionadas ao Grêmio:
– conquista do título da sul-americana
– vice-campeonato brasileiro
– renovação de contrato com Luxemburgo
– contratação do Lugano
– manutenção do volante Souza
São os que me lembro no momento. Poderia citar alguns tópicos referentes ao Inter e que estão colocando muita gente boa em pânico: a confirmação de Luciano Davi como vice de futebol colorado em 2013.
Evito cornetear a imprensa, porque sei que é séria e honesta, mas nem ela está blindada contra a emoção que cerca a relação Grêmio e Inter. Por mais que se procure manter equidistante, tem horas que o coração se manifesta, sufocando a frieza da racionalidade.
Mas a corneta mesmo costumo deixar para um especialista: o Ricardo Worthmann, que atormenta uns e outros com o seu vigilante blog ‘cornetadorw.blogspot.com (tem um link nesta página). As vezes o RW exagera, mas alguns integrantes da mídia também exageram de vez em quando. Então, elas por elas.
A coluna do meu ex-colega do Correio do Povo por longos anos, o Wianey Carlet, na Zero Hora de hoje desnuda o tormento que acomete a alma dos colorados de um modo geral. O WC, como todo bom jornalista, consegue captar o estado de espírita do torcedor, no caso, o do Inter, no que se refere ao título da sul-americana.
WC lembra, com propriedade, que a Sul-Americana, só era valorizada aqui no Estado por metade da população, referindo-se, sem citar, à parte vermelha. A outra metade, a azul, desprezava o torneio, definido como a segunda divisão da América do Sul. É o que diziam muitos gremistas, fato.
Hoje, como o Grêmio está disputando o título, a parte azul aderiu e está valorizando o torneio. WC brinca com isso, mas o faz com uma certa mágoa, um rancor incontido.
‘Não deve ser confortável mudar, tão radicalmente, de opinião’, escreveu ele, que não pode ser considerado um exemplo de coerência.
WC, que parece ter memória seletiva aguçada – esqueceu que um dia considerou Diego (quem?) um gênio; Taison superior ao Messi; e que volta e meia insiste que Neymar não está pronto – não citou em seu texto, como sempre bem estruturado e no caso sutilmente debochado, que a Sul-Americana passou a ser valorizada 100% não apenas aqui no RS do azul e vermelho como em todo o Brasil porque agora tem como maior prêmio uma vaga na Libertadores do ano seguinte.
Antes a vaga não existia. O título do torneio – realmente uma consolação para quem não conseguia entrar na Libertadores – saía do nada para lugar algum.
Hoje, não apenas vale a vaga como é o caminho mais fácil para garantir a classificação.
Gostaria de ter lido essa observação na coluna. Deve ter sido esquecimento. A tal memória seletiva.
Para terminar, outra do Barão: “Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades”.