Luxemburgo pediu muitos vezes que o Olímpico jogasse como nos tempos em que ele estava na casamata oposta.
Neste domingo, como já havia acontecido outras vezes, o Olímpico jogou. E com ele, o time.
Poucas vezes nesta temporada time e torcida estiveram tão unidos na garra, na vontade, na gana de vencer. E quando essa simbiose acontece, o Grêmio se torna praticamente imbatível.
Parecia que seria um domingo de pesadelo quando Léo Gago chutou o chão logo no início matando uma boa jogada ofensiva. Logo em seguida, Gago errou de novo. Parecia que desabaria no jogo, mas o que se viu foi um guerreiro alucinado, olhos quase cuspindo sangue, se reerguendo para o jogo, se encontrando e contribuindo para a emocionante vitória sobre o forte time do São Paulo por 2 a 1.
Sem quatro titulares, o Grêmio bateu o São Paulo num grande jogo e assumiu o segundo lugar. Espero que dessa vez a imprensa gaúcha destaque a honrosa colocação do Grêmio no campeonato.
Assim como Léo Gago se reergueu no campo de batalha, o mesmo aconteceu com Saimon. O zagueiro falhou por excesso de confiança em sua técnica e depois tentou remendar de forma grosseira empurrando o atacante dentro da área, num lance que Marcelo Grohe aparecia para consertar.
Saimon fez um segundo tempo rutilante, jogando com seriedade e firmeza, sem titubear, apesar do trabalho que teve com o rápido Osvaldo, que o técnico Ney Feijó teve a generosidade de tirar de campo.
O Grêmio foi, na verdade, todo superação. Faltou a arte e o talento de Elano, mas sobrou empenho e vontade em todos os jogadores, até mesmo naqueles que aparentam menos comprometimento, como Marco Antônio.
Todos aqueles que eu mesmo rotulei negativamente várias vezes deram uma resposta surpreendente.
Pará, por exemplo, simplesmente mostrou em alguns lances ofensivos uma qualidade raramente vista em algum lateral direito em atividade no país.
O lance do gol de vitória, em que ele entortou seu marcador pela direita, e cruzou na medida para Marcelo Moreno marcar de cabeça, foi de lavar a alma de quem estava órfão de lateral desde a saída de Mário Fernandes.
Naldo foi mais uma vez um zagueiro de imposição, chegando a arrancar aplausos da torcida, sinalizando que aí está mesmo um jogador que pode ser muito útil em 2013.
Anderson Pico, depois de um começo vacilante, afirmou-se no jogo e justificou plenamente por que pode ser eleito o lateral esquerdo do campeonato.
Marcelo Grohe foi impecável. Seguro em todas as intervenções e decisivo em alguns lances.
No meio de campo, Souza e Fernando foram impecáveis.
Zé Roberto, então, foi soberbo. Tudo o que eu escrever aqui será pouco para demonstrar a minha admiração por esse jogador, que aos 38 anos corre e, o que é mais importante, joga mais do que muito guri com bota banca de craque.
E isso que ele não contou dessa vez com Elano como parceiro.
Na frente, MA foi útil. Sem brilho, mas participativo, interessado como poucas vezes vi, resultado, sem dúvida, da energia vigorosa da torcida.
Marcelo Moreno lutou bastante. Como prêmio, um golaço para lavar a alma da torcida que já comemorava o empate com o inimigo.
Por fim, André Lima. Um centroavante tradicional, sem muita técnica, mas que já mostrou muitas vezes que sendo acionado adequadamente, recebendo a bola em condições de concluir, ele se torna muito perigoso.
Foi o que se viu quando Zé Roberto fez grande jogada e descobriu André Lima na entrada da área. O atacante dominou o chutou no único lugar em que a bola poderia entrar, rente à trave esquerda, fora do alcance de Rogério Ceni. Foi um chute preciso, seco, inapelável.
Um golaço que levou a torcida ao êxtase e fez André Lima correr como um alucinado à beira do campo.
Em meio a tudo isso, Zé Roberto ouviu a torcida gritar ‘fica’.
Luxemburgo, emocionado com o segundo gol, admitiu depois que o gol bateu mais forte quando a torcida cantou, em coro: ‘Fica Luxemburgo, fica”.
– Um dia que jamais vou esquecer -, admitiu o técnico depois do jogo.
Luxemburgo, o comandante desses guerreiros que honraram a camisa do Grêmio neste domingo, praticamente obriga Fábio Koff a acelerar a sua renovação de contrato.
Futebol é assim, é momento. E o momento é de Luxemburgo.
INTER
Depois da festa gremista, outra atuação para reafirmar o momento terrível do Inter.
O clube que começou a temporada festejado por ter talvez o melhor grupo do país chega ao final do ano numa situação para deprimir o colorado mais confiante.
O Inter está hoje 15 pontos atrás do Grêmio, algo que nem gremistas e menos ainda colorados poderiam imaginar.
O Inter hoje está mais próximo do último rebaixado, o Sport, do que do Grêmio.
O Inter foi batido pelo esforçado time da Ponte Preta por 1 a 0, e o pior é que não mostrou nem dez por cento da capacidade de indignação que vem demonstrando o Grêmio quando está atrás no placar.
Para um grupo milionário, em que alguns jogadores ganham mais do que meio milhão de reais por mês, o mínimo que se poderia esperar é mais empenho para cair ao menos com dignidade.