Espetacular! Parece uma nave espacial, uma gigantesca nave espacial.
Foi o que pensei quando fiquei frente à frente com a Arena depois de uma caminhada de dois quilômetros acompanhado de centenas de torcedores, todos seguindo à risca do glorioso hino composto pelo mestre Lupicínio.
Nesse trajeto, da Farrapos até a Arena, percebe-se a rua está sendo alargada, o que facilitará e muito o fluxo de veículos.
Os moradores da região, gente muito humilde, aproveitaram para faturar uns trocados vendendo bebidas e improvisando estacionamentos, a um custo de 30 reais para cima.
A caminhada não é muito fácil, porque não existe calçada na maior parte do trecho, e sim chão batido, esburacado e com elevações. Facilitou, tropeça.
Diante do monumento azul, outra missão: descobrir como e por onde entrar. Muita gente estava nessa situação, apesar de tudo muito bem sinalizado.
Depois de uns 15 minutos, consegui entrar. Eram umas 19h30. Pergunta daqui, pergunta dali, entrei, sem querer, na área que dá acesso aos vestiários. Ah, muita segurança em todos os lugares, além de funcionários de todo o tipo, dezenas deles.
Pessoal de imprensa atento para fazer entrevistas. Eis que vejo o Baidek. Esse é um dos poucos jogadores com quem mantive uma certa amizade nos tempos de setorista. Ele me vê e me reconhece, mesmo sem a cabeleira e a barba de guerrilheiro tupamaro. Nos abraçamos. A Eduarda Streb se ofereceu para tirar uma foto, que saiu meio borrada.
Perguntei ao Baidek se ela traria reforços. Ele respondeu que sim, mas não revelou nomes. Falei que fazia a cerveja 1983, e ele riu, contando que esse é o milhar final do seu celular, cujo número todo guardei para obter informações mais adiante.
Bem, segui em frente em minha busca. Até que um funcionário me disse que eu deveria pegar o elevador e descer no segundo andar. Insisti que queria ir de escada, mas ele repetiu que seria melhor de elevador.
Aqui um aparte: sou pé frio com algumas coisas, elevadores, por exemplo.
São vários elevadores. Abre-se a porta de um deles, que logo fica lotado. ‘Entro ou não entro”, pensei, pesando os prós e os contras, o peso excessivo, elevador novo, sei lá, não queria ficar trancado. Entrei.
Encontro naquele cubículo a Eliana Camejo, dona da empresa de comunicação contratada pelo Grêmio. A ascensorista aperta o botão, o elevador sobe um pouco e… Para!
Escuridão total. Falta de energia elétrica.
Elevador lotado, lotado mesmo. A ascensorista, nervosa, diz: ‘Sem pânico’.
Pronto, falou a palavra que não poderia ser pronunciada: pânico.
Ela repetiu: “Estou apertando o botão do pânico, mas não está funcionando”.
Junto de mim, uma baixinha, ofegante, diz:
– Estou passando mal, estou passando mal.
Outra mulher diz que está sentindo falta de ar. “Não tem ventilação?”, alguém pergunta.
Não, não havia ventilação. Fiquei preocupado: elevador lotado, sem ventilação e, conforme havia observado, sem fresta para entrar ar. “Se demorar vai ter gente desmaiando, gente agitada e o ar será consumido mais rapidamente”, pensei, e aí falei:
– Pessoal, tá cheio de gerador aí fora, muita calma que a luz já vem.
Mal terminei de falar, a luz voltou. O elevador desceu e todos saíram rapidamente dele rumo às escadas.
Finalmente cheguei ao setor da imprensa, um enorme saguão, repleto de equipamentos, garçons servindo canapés, refrigerante, sucos e água de coco. Maravilha. Estava com a garganta seco e precisava me recuperar do susto.
Reencontro velhos colegas. Um deles o Júlio Sortica. Por ‘culpa’ dele que me tornei repórter esportivo. Éramos colegas na faculdade. Ele já trabalhava na Folha da Tarde. Um dia, quase no final do curso, ele me disse que estava indo para a Zero Hora e que abriria uma vaga. Fui lá e ganhei a vaga.
Esse é o Júlio Sortica, com quem tirei uma foto ao lado de outro grande parceiro que não via há tempo, o Flávio Valente.
Perguntei ao Flávio onde ficava o acesso ao campo, estava ansioso para ver a Arena por dentro. “Não brinca que tu ainda não foi lá ver. Vem, que eu quero filmar esse momento”.
Filmar? Ele só podia estar brincando. Aí, ele sacou uma câmera pra registrar a minha reação. Quando finalmente entrei na Arena, já quase lotada, meu queixo caiu.
Demorei alguns segundos pra me recuperar. Um espetáculo.
– Está aí uma puta arena!
Nisso, vem o David Coimbra, que também entra no ‘filme’ do Flávio Valente. Ele vai colocar o vídeo no youtube.
O local onde ficou o pessoal da imprensa é realmente especial. Seria como a social em miniatura do Olímpico, só mais próxima do gramado. Cadeiras estofadas, conforto, visibilidade excelente.
A sensação é de que está num estádio europeu. Que um lugar assim tão maravilhoso não poderia estar no Brasil de tão majestoso, moderno, diferente de tudo o que existe hoje em termos de estádio de futebol no país.
Com essa Arena avassaladoramente espetacular não será muito difícil esquecer o Olímpico.
É o presente e o futuro se sobrepondo ao passado inexoravelmente.
Depois, veio show, sensacional. Emocionante.
Por fim, o jogo. De onde eu estava podia ver a expressão dos jogadores claramente, de tão próximos. Tive a impressão de estar numa quadra de futebol sete, mas com onze de cada lado.
Uma pena a grama não estar completamente assentada. Sulcos foram abertos várias vezes. Nada que o tempo não resolva. Além disso, o gramado foi prejudicado pela falta de chuva.
Gostei do time do Hamburgo, tem qualidade, toca bem a bola. Mas quem saiu na frente foi o Grêmio, golaço de André Lima, o primeiro gol da Arena.
O Guerreiro Imortal, de quebra, comemorou imitando o Kidiaba. Renovo o contrato dele por mais cinco anos.
Vou tentar entregar uma Kidiaba pra ele.
O Hamburgo empatou, muito por culpa de Luxemburgo, que fez substituições demais. Será que ele não sabia que o Grêmio precisava vencer seu primeiro jogo na Arena? Por que fragilizar tanto o time? Para dar chance aos outros?
Pelamordedeus!
O Hamburgo empatou. Felizmente, Marcelo Moreno salvou a pátria tricolor fazendo o gol da vitória no finalzinho, aproveitando cruzada de Marquinhos.
O Grêmio começou vencendo na Arena, que mostrou ser um poderoso aliado em função de sua acústica, A vibração da torcida é amplificada, e da proximidade com o gramado.
O ELEVADOR
No intervalo fui conferir os outros andares da Arena, que vai até o sexto andar, onde ficam as cabines de rádio e TV.
Passei pelo lounge, um espaço enorme, pouca luz, decoração chique, serviço de bar. Fica junto aos camarotes do lado oeste. Não sei se tem também do outro lado.
Fui até o sexto andar, pelas escadas, claro.
Pra descer, decidi encarar um elevador. Entrei com mais duas pessoas. Elas pediram para descer no segundo andar. Eu ia até o primeiro.
O elevador parou e as pessoas desceram. Ficamos eu e a ascensorista. Adivinhem. Ela acionou o botão, o elevador se mexeu e… parou. E não foi por falta de luz.
Ela acionou o tal botão do pânico várias vezes. Ela estava em pânico.
Mas deu certo. Chegamos ao primeiro andar. Eu me despedi da moça desejando-lhe ‘boa sorte’ e dizendo que nesses elevadores eu não entro mais e lamentando pela situação dela.
– Não lamente, porque eu também não entro mais nesses elevadores, estou indo embora – garantiu, olhando para um outro funcionário que se aproximava.
– Estou cansada. Este elevador está com problemas e eu não entro mais nele.