Marco Antônio e a 'revelação' de Luxemburgo

É coisa dos gênios, dos sábios. Com apenas uma declaração, proferida após a vitória por 1 a 0 sobre o Cerâmica, Vanderlei Luxemburgo, o Iluminado, conseguiu transformar todo o meu modo de ver e avaliar Marco Antônio.

Foi como um clarão na escuridão do meu pensamento.

Começou com uma frase curta, simples, mas absolutamente verdadeira:

– A contratação de Marco Antônio foi errada.

Eu já começava a comemorar, abrindo mais uma Mazembier, feliz porque finalmente o técnico concordava comigo, quando veio o complemento:

-Contrataram ele como meia-esquerda, ele nunca foi meia-esquerda. Cobraram dele uma coisa que ele não tem. Ele tem muita qualidade, mas não para ser o número 10.

Então, esse Marco Antônio que aqui está não é o mesmo que jogava – e bem – na meia da Portuguesa, conhecida então como ‘barcelusa’, ou outra bobagem desse nível? Seria uma fraude?

Mas se Marco Antônio não é meia e, segundo Luxemburgo, ‘tem muita qualidade’, qual seria a sua posição verdadeira?

Luxemburgo, como um bom mestre, um ser superior, não entrega tudo mastigadinho, ele provoca, instiga. Cabe a nós, pequenos mortais, descobrirmos, afinal, quais são as qualidades de MA e, principalmente, qual a sua real posição.

Brilhante o Luxemburgo.

O objetivo dele, e isso me parece claro, é tirar de MA todo o peso  que recai sobre um camisa 10, um articulador, aquele jogador que faz o time jogar, que cria, lança, dá assistências preciosas e ainda invade a área para concluir e fazer gols.

Na verdade, MA faz um pouco de tudo isso, mas um pouco realmente pouco, assim em doses homeopáticas, quase imperceptíveis.

Já que MA não é mais um meia, conforme decretou espertamente o Luxemburgo um ano depois de trabalhar com ele, qual seria mesmo a sua posição?

Simples, elementar meu caro Ilgo, é a posição em que ele jogou contra o Cerâmica e vai jogar contra o Fluminense, substituindo aquele que para mim é o principal jogador do Grêmio, Elano, o ponto de equilíbrio do time.

Marco Antônio só tem uma qualidade, a meu ver: bom passe. Ele dá andamento às jogadas, de maneira um tanto óbvia na maioria das vezes. Ele é quase incapaz de roubar bolas e de driblar. É o jogador sanguessuga. Eu explico: o Fernando se arrebenta para recuperar a bola e o MA se apresenta para receber a bola. É um chamichunga, como eu aprendi ainda criança nas barrancas do rio Taquari.

O problema é que MA faz com a bola. Normalmente o óbvio, um passe para o lado ou para trás. Ele busca abrir o jogo muitas vezes. Faz lançamento razoáveis e por vezes até acerta uma metida de bola para alguém na área. Mas raramente arrisca um drible. Sujar o calção numa disputa, nem pensar.

Então, MA, se não é meia, também não é volante, porque no máximo ele cerca o adversário, não dá o bote, carrinho então só de lomba.

Marco Antônio joga naquela zona difusa entre a linha de marcação e a de criação. Faz as duas coisas e não faz nenhuma.

Resta, agora, torcer para que no jogo contra o Fluminense Marco Antônio consiga superar um pouco seus limites e de temperamento e seja o mais próximo possível do que ele, segundo o mestre Luxemburgo, não é: um camisa 10.

Além de torcer, vou acreditar em todos aqueles que andam dizendo que nos últimos jogos – não importa o nível dos adversários – Marco Antônio, “até que jogou bem”, assim como quem dizem ‘ele está se esforçando, vamos lhe dar um voto de confiança’.

Vou acreditar também na cotação da ZH, que o considerou um dos melhores em campo na modesta atuação do time contra o Cerâmica.

Aos que irão à Arena, meu pedido: não vejam MA como um meia, não cobrem dele grandes jogadas e sejam tolerantes e pacientes. Muito tolerantes e pacientes. Vejam MA como um jogador complemento. Se não atrapalhar, já estará ótimo.

Que ele seja como um bom árbitro, aquele sobre o qual se diz depois dos 90 minutos: o juiz foi tão bem que ninguém notou a sua presença.

O INTOCÁVEL

D’Alessandro, depois do jogo em que o Inter foi batido por 1 a 0 peloVeranópolis, disse que mudou para melhor. É questionável. Foi expulso no Acre, Antes, já havia brigado no jogo contra o Esportivo. Hoje, já ia brigando de novo e foi afastado, bruscamente, pelo juiz.

E D’Ale diz que não vai mudar, isso depois de dizer que já mudou bastante.

Enquanto isso, Dunga defende o argentino, diz que ele apanha muito, que há revezamento pra bater nele. Não está longe da verdade, mas não é novo.

O que não pode é as arbitragens serem tolerantes com a violência, como acontece em todos os lugares.

Violência por violência, o Grêmio tem sido mais vítima. No ano passado, perdeu seus melhores jogadores por lances violentos, Mário Fernandes e Kleber, sem punição aos agressores.

Cabe aos juízes punirem com rigor as entradas violentas, os socos e as inaceitáveis cuspidas, estas muito reclamadas pelo Imperador do Pampa.

Agora, só não vale entrar no jogo de Dunga, que parece querer dar a impressão de que seu time tem sido caçado, tudo para influenciar as arbitragens. No jogo contra o Esportivo, na expulsão injusta de Ediglê, já apareceu o resultado da estratégia do técnico colorado.

SELEÇÃO

Final de jogo na Bolíva me liga o Ricardo Worthman, o cara do ‘cornetadorw’. Eu digo que estou diante da TV torcendo por um gol de Leandro, para que ele seja vendido e o Grêmio fature alguma coisa.

Ele riu, gol do Leandro?

Foi só ele desligar o telefone que a bola sobrou para Leandro fazer o seu gol. Hoje, ele fez o gol da vitória do Palmeiras, dominou com um pé e chutou com o outro, irreconhecível. O que não faz uma mudança de ares?

Dizem que o Tottenham vem aí, vai trocar um Leandro pelo outro, já que o Inter continua querendo mais de 20 milhões de euros pelo seu Leandro, o Damião.