Meus inquilinos

Minha casa não é grande, mas sempre cabe mais um. Por isso, não me neguei a dar abrigo ao casal amigo.

Afinal, seria por uns poucos dias.

Eles ficaram à vontade. Sentem-se em casa. Ajeitaram seu cantinho rapidamente, com muito carinho e cuidado.

Procurei ser o mais discreto possível para não atrapalhá-los. Por vezes, sinto-me um intruso, faço um barulho indevido. Esqueço e bato a porta, por exemplo.

Percebi que eles dividem o trabalho. Enquanto um fica mais recolhido, zelando pelo espaço conquistado, o outro sai, mas não se ausenta por muito tempo.

“Isso é que é amor”, penso, com uma pontinha de inveja, ao ver aquela movimentação, aquele zelo, aquele cuidado de um com o outro.

Quando estão afastados, ouço uma cantoria que suspeito seja de um para o outro.

Por vezes, me aproximo do espaço que eles preservam com tanta dedicação. Se eles estão juntos, um deles se afasta rapidamente. O outro fica me olhando fixo. Percebo que está tenso, preocupado.

Costumo alimentar nossos inquilinos. Jogo migalhas de pão, arroz cozido e até a ração do Elvis, nosso cãozinho natureba, que devora cenoura e brócolis tanto quanto carne de gado ou de frango.

Algumas vezes flagrei meus amigos atrevidos avançando sobre os restos de ração do Elvis.

Nada contra, mas acontece que eles se assustam e acabam fazendo cocô na pia, no chão, ma mesa. Um cocô grande, molhado. Um problema. Pior ainda quando piso em cima.

Hoje, no final da tarde, percebi que o recanto deles estava vazio, algo raro nos últimos dias.

Fiquei observando à distância. Em minutos, um deles voltou com uma minhoca presa no bico.

Sem ligar pra mim, pousou suavemente no ninho de ramos secos que eles fizeram na minha luminária, junto à porta dos fundos.

Desconfiado, ele olhou no entorno. Eu fiquei paralisado, mal respirava para não atrapalhar aquele momento. Ele, enfim, sentiu-se seguro e só então compartilhou o alimento com os filhotes que pelo jeito recém haviam nascido.

Imaginei os pequenos seres de bicos abertos, erguidos, aguardando aquela iguaria.

Logo, o outro se aproximou, também com alimento no bico.

Sinto que meus inquilinos são felizes. Estão instalados num lugar seguro, ao abrigo da chuva e do vento, e contam com a nossa discrição.

Sinto-me um pouco pai dos sabiazinhos.

Em breve eles estarão crescidos e, como os filhos da gente, sairão por aí, vivendo a vida deles.

Mas sei que estarão por perto.

Por isso, o ninho ficará ali, prontinho para quando eles voltarem.

ATENÇÃO

O texto acima é a minha forma de dizer que joguei a toalha no Brasileirão.