O Grêmio reuniu um grupo de blogueiros nesta segunda-feira (dia 25) à noite para um churrasco, acompanhado de um líquido de um amarelo esmaecido com espuma branca que lembrava um bebida chamada cerveja. Quem me conhece já pode imaginar a marca do produto, que, bem gelado, até serviu para acompanhar a costela suculenta e a picanha ao ponto.
É claro que aquele pessoal todo de redes sociais relacionadas ao futebol e em especial ao Grêmio não estava lá só pra forrar o estômago e jogar conversa fora.
O pessoal da comunicação do clube reuniu a galera para apresentar seus projetos para 2014 e ouvir sugestões. Uma iniciativa legal, digna de aplauso.
Foram apresentados o projeto de uma nova revista do Grêmio, a 1903, que terá em seu primeiro número, agora em dezembro, o grande Valdir Espinosa na capa; novidades interessantes na TV Grêmio e mais algumas coisas, todas com o objetivo principal de reforçar a marca Grêmio e ao mesmo tempo encontrar mecanismos de aumentar a receita do clube através de canais de comunicação com a nação tricolor.
Enquanto refletia sobre aquele momento que envolvia tecnologia de última geração, blogs, tuíter, face e tudo mais, fixei o olhar no churrasqueiro. Pareceu-me uma figura conhecida. Lembrei-me de último churrasco que comi ali no Ovelhão – churrascaria interna do clube – assado pelo Felipão, lá no começo dos anos 90.
No mesmo instante, ecoou em minha mente – ainda sóbria, ressalte-se, até porque me nego a beber mais que duas latinhas de Skol – uma frase que cansei de ouvir nos meus tempos de setorista do Grêmio:
– Atenção Vargas, atenção Vargas, favor comparecer…
Claro, o assador, grisalho e curvado, é o Vargas, só pode ser o Vargas – pensei, já me aproximando, tentando imitar a voz da telefonista:
– Atenção Vargas, atenção…
Ele virou-se sorrindo, enquanto batia um espeto de costela.
Gentil, ele disse que se lembrava de mim. Acho difícil, porque eu era barbudo e cabeludo. Mas também não é impossível, porque a gente se encontrava seguidamente no Olímpico.
– E aí, como é que tu estás se sentindo com essa história toda, Arena, demolição do Olímpico? -, perguntei.
– Não é fácil, tenho toda uma vida aqui dentro. Mas vamos levando, trabalhando sempre. Acho que ainda vai demorar até a gente sair daqui.
Ele lembrou, orgulhoso, que de vez em quando é chamado a tirar fotos com torcedores. “Tem gente que tem curiosidade em me conhecer de tanto ouvir essa história do alto-falante, que, aliás, é coisa já ultrapassada, porque a gente hoje se fala através de intercomunicadores”, conta.
Vargas disse que nasceu em Bossoroca e que veio a Porto Alegre logo após o serviço militar. O Grêmio foi seu primeiro emprego com carteira assinada, isso em 1972.
– São 41 anos de Grêmio. Só o ‘seu’ Verardi (Antônio Carlos Verardi, outro que se confunde com a história do Grêmio e do estádio) me ganha -, diz sorrindo.
Perguntei o que ele faz além de assar de vez em quando.
– Faço vistorias em vários locais, em Eldorado, no hotel que o clube alugou pra gurizada, no Cristal. Todos os dias eu saio para verificar as coisas. Depois eu volto. E cada vez que eu volto parece que estou voltando para a minha casa. Eu considero o Olímpico a minha casa -, revelou, já um pouco emocionado.
Tive que interromper esse reencontro com o passado, porque a reunião para discutir o presente e futuro do Grêmio na área da comunicação já havia iniciado sem que eu percebesse.
Afinal, quando nos deparamos com fragmentos da nossa história parece até que o tempo para.
SUGESTÃO
Penso que vale a pena colher depoimentos do Vargas, do Verardi e outros tão ligados à história do Grêmio e do Olímpico para as mídias do clube. Se é que isso já não foi feito.
Espero que assim eu venha a saber o nome completo do Vargas, que eu esqueci de perguntar.
Não que isso importe, só por curiosidade mesmo.
– Atenção Vargas, atenção Vargas, favor comparecer ao portão…
Tenho a impressão que vou ouvir essa convocação até quando a ‘casa de Vargas’ não existir mais.