Mauro Pandolfi dá outra excelente contribuição ao Boteco, que é mais liberal que baile funk e ‘zona’ de cidade do interior.
Acompanhe, é longo mas vale a pena. Ah, concordo com a análise que o Mauro faz sobre a passagem (vitoriosa) de Renato por aqui. O tempo vai provar o quanto Renato acertou em sua proposta de futebol:
“É um texto tardio. Relutei em enviá-lo. Mas… vamos lá!
O Ilgo perguntou algo sobre Renato. O que ele fez? Uma coisa assim. Poxa! Juntei os meus botões, li textos, parei, reli, tentei analisar, reanalisar o Grêmio de 2013. Dida foi discutido o ano inteiro. Ora, falhava e Marcelo Grohe ressurgia. Quando salvava, tornava-se personagem do gênio-idiota da penúltima página. Pará foi tosco, bisonho e Alex Telles – ganhou a Bola de Prata e eleito o melhor do Brasileirão – não sabia cruzar.
Sacrificamos zagueiros a temporada toda. Salvou-se Rodolfho. Quando Fernando foi embora – sofreu com várias críticas neste boteco – abriu-se um caminho antes nunca percorrido. Entraram vários. Adriano sucumbiu com sua limitação. Sousa, Riveros e Ramiro tentaram suprir a ausência com dedicação, qualidade tática e técnica. Porém, foi difícil ser volante meia o tempo todo.
Zé Roberto e Elano provocaram duelos verbais neste espaço. Foram mais eficientes fora do que no campo. Os guris, tentaram, apagaram, não deixaram rastros. Onde estão os Bitecos e o Calyson? E, o ataque! Ataque? Existiu? Deram uma frota por Barcos que naufragou. Era o craque, foi tratado como tal, o símbolo de uma era. E, do pirata sobrou apenas o tapa olho, o olho de vidro e a caveira. E, a perna de pau? Não vou fazer esta maldade.
O gladiador bateu, caiu, deu bundada, caiu, brigou, caiu, xingou o juiz, caiu, chutou, caiu. Foi assim o ano inteiro. O veloz, criativo Vargas fez turismo em Porto Alegre. Máxi virou esperança. Lucas Coelho, Mamute, Paulinho foram motivos de piadas, chacotas, culpados pela eliminação da Copa do Brasil neste boteco. Sobrou pouco, muito pouco, quase nada no elenco do time. É isto que deduzi pelas colunas, comentários, pitacos neste espaço.
Agora, o time? Foi do moderno, ao comum, passou pela falta de padrão e acabou na retranca. Um sistema que preferia defender, utilizando triangulações pelos lados, com cruzamento medidos. Alguns – poucos, verdade! -, viram assim. A maioria enxergou um time mal escalado, defensivo e só atacava a base do chutão. Um timeco igual aquele da turma do lago.
Na segunda-feira acompanhei o julgamento da virada de mesa. Pelo que li no boteco, achei que o tricolor beneficiado era o Grêmio. Mostraram a tabela na tevê. Nós fomos vice-campeão! Segundo! Tratamos o nosso time como se fosse rebaixado ou segurado numa ponte que quase partiu.
O que queremos? A Arena parecia um estádio europeu, lotado, com cânticos, vaias. Parecíamos o Bayern ou o Barcelona. Nunca vi Messi ou Ribery. No banco não estava Guardiola ou Mourinho. Na arquibancada, aqui no boteco, eramos torcedores destes times. Cobramos, exigimos desempenho na altura de Barcelona e Bayern. Estamos longe, muito longe, distante demais. Quero título. Mas reconheço os nossos limites.
Renato é o meu ídolo. O ponta moderno, destruidor é o meu preferido da história gremista. Aprendi a gostar do treinador. Não é um mero motivador. Está em transformação. Mudou muito nas duas passagens. Mostrou-se mais tático. Fez um trabalho espetacular no Grêmio.
Entretanto, leio nos blogs, nos comentários, nas colunas, escuto nas rádio, críticas exacerbadas sobre o trabalho. Não treina e levou um nó tático de vários técnicos. Mancini, disseram muitos, foi um deles. Na decisão contra o Flamengo, a câmera flagrou Mancini orientando o time: “Vamos, porra!!” Ótimo, este Mancini! Péssimo o Portaluppi e sua falta de esquematização. Renato tornou-se um pária nos comentários. Um Celso Roth – este, também, exageradamente demonizado – com grife. Ele nos deu uma bela lição na carta de despedida. Agradeceu, nos elogiou e disse até algum dia. Nós, os gremistas, estamos dizendo: “até nunca”! Boa sorte, Renato.
Não conheço Anderson Moreira. Estou como um gremista goiano quando o Grêmio buscou o Silas. E, Silas era ótimo. Não suportou a pressão, o desespero, a intolerância e o mau humor dos gremistas. Perdeu-se e foi devorado, sem dó, nem piedade.Tenho confiança no Moreira. Espero que a direção, também, tenha confiança. Boa sorte, Moreira!
A vida, meu caro Ilgo, tem as pequenas alegrias. A felicidade está no sorriso do filho, no beijo da mulher amada, na derrota de um canalha. Torci pelo Raja. Vibrei com a vitória. Porém, fiquei impressionado com a idolatria do Ronaldo Assis. Nunca tinha visto isto. A derrota do Galo é um recado ao futebol brasileiro. Estamos longe, perdido no tempo e espaço, suspiramos por um futebol ultrapassado, equivocado e sem futuro.
Renato tentou ser moderno no Grêmio. Compactou o time, armou triangulações, buscou velocidade e esbarrou “nos detalhes tão pequenos” do ataque: os gols que Barcos, Kleber e Vargas sonegaram.
Sonhamos, ainda, com um dez. Estão por aí. Ganso, Zé Roberto, Ronaldo Assis encantam. Não participam do jogo, flutuam, aparecerem, somem e escondem-se nos momentos decisivos. Não há mais lugar para o velho dez. O jogo pede intensidade, bravura, empenho e decisão. O time precisa de um jogador de noventa minutos. O de um lance só, acabou. Você só o encontram nos livros antigos, nos velhos manuais ou na memória de um saudosista. O tempo é devastador. Nada sobra quando o novo sai debaixo do sol. Agora, o velho dez só é destaque nos jogos perdidos do you tube. Cruel? Sim, muito cruel! Mas, é o futebol, a vida.
Estou saindo de férias. Um Feliz Natal para todos os botequeiros e um 2014 vitórioso para o nosso Grêmio. Tenho fé, esperança no renascimento do futebol. Agradeço o espaço, as palavras, os comentários sobre meus texto. Obrigado!”
MAURO PANDOLFI