O 'highlander' do Grêmio e o da Seleção

Barcos é um caso a ser estudado. Um fenômeno.

Começa pelo fato de que é um centroavante que não faz gol ou, para ser mais preciso, com extrema dificuldade para fazer gol.

Sua noção de tempo e espaço é tão precária quanto meus conhecimentos sobre física nuclear. Ele e a bola dificilmente conseguem estar no mesmo ponto da grande área ao mesmo tempo.

Um exemplo oposto dessa característica absolutamente inaceitável para um centroavante que vive de cruzamentos e lançamentos é Romário. Mas há outros. Dezenas, centenas de outros. O problema é que nenhum está no Grêmio.

Quem está é Barcos. Por ele já passaram Luxemburgo e Renato Portaluppi. Os dois sucumbiram. Enderson resiste, mesmo levando 4 a 1 em Gre-Nal.

Se Barcos não fosse um ‘highlander’ talvez as coisas tomassem outro rumo. Sim, Barcos é indestrutível.

Agora mesmo ele andou manifestando uma lesão, ou, como está na moda, um desconforto muscular ou algo parecido.

Alàn Ruiz, que começa a dar esperança ao torcedor, também sentiu uma lesão.

A questão é que Barcos, que há tempo deixou de ser uma esperança para os gremistas, está recuperado e Ruiz não.

Barcos quase não se lesiona. É um indestrutível. Vai jogar domingo. Ruiz está fora.

O argentino me lembra o goleiro Manga, com quem convivi na década de 70 como estagiário de jornal. Manga nunca se lesionava. E mesmo lesionado ele jogava. Não dava chance para ninguém. Lembro do Ademir Maria treinando, treinando, esperando por uma chance que não vinha nunca.

Dedo destroncado? Manga jogava com todos os dedos destroncados. Permanentemente destroncados. Eu vi. As mãos do grande Manga eram deformadas.

Coisa de filme de terror, como costumam ser as atuações de Barcos, em especial nos últimos tempos. Ele tem perdido cada gol que chego a desconfiar que só pode ser de propósito, porque ninguém tem conseguido ser tão ruim nas conclusões.

Se ao menos Barcos não fosse indestrutível, Lucas Coelho teria, então, uma sequência de jogos pra mostrar se tem condições ou não de ser titular do Grêmio.

Mas além de não sofrer lesão de espécie alguma, nem resfriado, enxaqueca, nariz entupido, unha encravada, nada, Barcos tem muita sorte.

Alguém lembra de alguma falta mais forte que ele tenha sofrido? Eu lembro de uma mais ou menos. Foi contra o Figueirense, mas logo Barcos se levantou lépido e faceiro.

É curioso isso: um atacante passar jogos inteiros sem sofrer uma entrada mais dura.

Assim como a bola nunca o alcança na área – pelo menos a ofensiva, porque pra defender de cabeça ele é melhor que qualquer qualquer zagueiro – não há chuteira que o atinja.

Temos, então, um centroavante que não faz gols e não sofre faltas.

Não que eu deseje o mal de Barcos. Na verdade torço por ele. Gostaria que ele fizesse muitos gols e saísse correndo com a mão tapando o olho.

Mas já perdi a esperança. Esse Barcos está afundando, e com ele a esperança de algum título neste ano.

SEGUNDA CHANCE

Sou favorável a que todos tenham uma segunda chance. Bem, nem todos.

Mas Dunga merece uma nova oportunidade na Seleção. Seu trabalho anterior foi muito bom. Na seleção da Alemanha, que todos enaltecem, e com razão, ele teria sido mantido após a derrota para a Holanda.

Afinal, havia conseguido armar uma equipe competitiva e conseguido ótimos resultados, em especial as vitórias sobre os argentinos. Os argentinos penaram com Dunga de técnico da Seleção. Tem ainda os títulos, mas nada supera as surras nos vizinhos.

Então, sou a favor da volta de Dunga. É briguento, sem dúvida, mas sempre na defesa de seus pontos de vista. Não se intimida e parece gostar de duelar com a imprensa. Parece não, ele gosta, curte muito.

Dunga é um toque de seriedade, transparência e responsabilidade numa CBF comandada por cartolas que talvez nem saibam o significado dessas palavras.

Além do mais, a Seleção Brasileira é um assunto que realmente não me interessa tanto. No ranking das minhas prioridades ela está tão bem colocada quanto alguma música do Chico Buarque na parada de sucessos.

Portanto, pra mim tanto faz, tanto fez.

Mas acho que o Dunga na Seleção funciona melhor do que em clube.

Não tem jogador de clube e de Seleção? Pois Dunga é treinador de Seleção, não de clube.

Dunga, ainda mais que Barcos, é um highlander.

Quando se pensa que ele acabou, eis que está aí de volta, ainda mais forte.