Crônica esportiva muda a frase de Dino Sani

Nunca pensei que viveria para ver aquela que eu considerava a única verdade incontestável do futebol ser tão abalada.

Na distante década 70, da qual me considero um sobrevivente depois do massacre colorado, o técnico Dino Sani – como jogador atuou no SP, Milan e Boca Jrs entre outros – do alto de sua sabedoria, filosofou, sem a pose de Paulo Autuori, claro:

– Em futebol, se ganha, se empata e se perde.

Diante de descoberta tão retumbante, o ponta-direita Arquimedes, titular da equipe de Siracusa, na Grécia pra lá de antiga, mais antiga que eu, saiu correndo nu pelas ruas da cidade, sem ser perturbado pela Brigada Militar, que estava preocupada em embretar a torcida do Grêmio:

– Eureka, eureka!

Era uma frase para ser gravada em bronze.

Um erro em bronze é um erro eterno. Lembrei dessa frase do Mário Quintana, com o qual compartilhei uma velha Remington (ou seria Olivetti?) na redação do velho Correio do Povo no limiar dos anos 80.

Seria um grande erro, porque essa frase acaba de receber um acréscimo de peso de setores da crônica esportiva gaúcha, considerada pela crônica esportiva gaúcha – inclusive por mim nos tempos em que dela participei profissionalmente -, como uma das mais sérias, competente e ética do país.

Não é que no futebol, pelo li e principalmente ouço desde cedo nesta terça-feira, não existe apenas o vencer, o empatar e o perder?

Não, a coisa é mais complexa.

Existe também o ‘optar por não vencer’.

É a conclusão a que chego depois de ler e ouvir gente, e gente graúda da crônica, afirmar que a melhor decisão do Inter neste momento é optar por não vencer o Ceará, para poder se concentrar na disputa da Sul-Americana. Coisa mais estranha.

O curioso é que nenhum desses filósofos modernos do futebol defendeu esse tese antes de derrota surpreendente diante do Ceará, no Beira-Rio, onde, aliás, o Inter faz campanha espetacular no Brasileirão.

De repente, então, a Copa do Brasil virou um estorvo. De repente, o Ceará virou um Barcelona do Sertão.

Então, o Inter, no caso de cair em Fortaleza, não terá fracassado. Terá optado pela Sul-Americana, que, ao contrário do que defendem alguns analistas, é mais difícil que a Copa do Brasil, haja vista o que aconteceu com os grandes clubes brasileiros na Libertadores.

A conclusão a que cheguei: o Inter não perde, opta por não vencer.

Dino Sani, hoje, faria a seguinte frase:

Em futebol, se ganha, se empata, se perde e se opta por não vencer.

O bom disso tudo é que o futebol continua me surpreendendo.

TORCIDA

A direção do Grêmio errou ao não entrar num acordo com sua torcida sobre o local da concentração para o Gre-Nal. Decidiu de alto pra baixo. Faltou habilidade política. Deu no que deu. Cada vez mais nos encaminhamos para Gre-Nal sem torcida adversária.