Todos comentam o nó tático de Felipão em Abel. Antes de tentar desatar esse nó, é preciso registrar que Abel havia feito o mesmo no Gre-Nal de 4 a 1 na Serra, enrolando Enderson Moreira. Então, é do jogo. Um dia se ganha, outro se perde. E eles, os técnicos, seguem enchendo os bolsos de dinheiro, alguns com mais mérito que os outros.
Domingo, foi a vez de Abel se enrolar todo.
Para vencer o clássico e romper a série humilhante de derrotas, Felipão partiu de uma premissa: não deixar o meio-campo habilidoso e experiente do Inter tocar a bola, ditando o ritmo do jogo.
O Inter chegou a ensaiar esse controle do meio campo no começo. Foram apenas alguns minutos. Cheguei a pensar que se continuasse assim o Grêmio voltaria a perder.
Mas o que se viu foi o Grêmio aos poucos neutralizando o quarteto formado por D’Alessandro – que, ao perceber que não conseguiria jogar futebol porque Felipe Bastos estava em cima dele, tratou de apatifar o jogo e a tentar a expulsão de algum adversário -, Alex, Aranguiz e o sonolento Alan Patrick.
Mas como Felipão conseguiu neutralizar esse toque de bola? Simples, impondo um ritmo forte, marcação severa e futebol verticalizado, com poucos toques para os lados. O Inter sentiu essa marcação e dela não conseguiu sair.
O Grêmio forçou o Inter a buscar a ligação direta. E aí apareceu o competente sistema defensivo armado pelo mestre Felipão. Vitórias pelo alto e pelo chão. Com Wallace ganhando a maioria das disputas, inclusive aproveitando seu porte avantajado para roubar bola e acionar em especial o Felipe Bastos, saindo de trás uma bola qualificada.
Fundamental nessa estrutura foi a movimentação de Ramiro. Confesso que, em princípio, preferia o Felipe chegando mais ao ataque e estranhei que essa liberdade foi dada a Ramiro, que reconhecidamente tem dificuldades na zona ofensiva. Até fazer o gol – resultado do posicionamento que lhe foi destinado por Felipão – Ramiro havia errado umas três ou quatro jogadas de contra-ataque. Por outro lado, fazia um combate incansável aos meias colorados.
O mesmo baixinho que chegava à frente com velocidade e disposição, combatia energicamente no meio e em sua própria área. Lembro o lance em que ele evitou o gol colorado aos 46 do primeiro tempo, entrando de carrinho na pequena área junto à trave esquerda, com Grohe já batido.
Em termos táticos, me atrevo a dizer que a movimentação e a aplicação de Ramiro fizeram o grande diferencial a favor do Grêmio. Comparado a Ramiro os meias colorados pareciam preguiçosos.
Não tem como deixar de destacar também a movimentação de Zé Roberto, um jogador sábio. Na hora certa, ele fechava pelo meio para compor a barreira de blindagem diante da zaga, que, aliás, foi soberba. Pará, sem a mesma sabedoria, mas com comovente dedicação, também foi importante.
Na frente, Luan e Dudu também tiveram participação decisiva. Luan cometeu alguns erros no começo, mas depois engrenou e ficou no nível de Dudu, que surpreendeu no lance do primeiro gol pela frieza para driblar o chileno e rolar para Luan marcar. Dudu desconcertou a marcação várias vezes.
Barcos cumpriu muito bem a função de um centroavante que recua para receber a bola, abrindo espaço para os meias que chegam de trás, pegando a marcação de surpresa.
Até nas substituições Felipão foi perfeito. Giuliano e Alán Ruiz entraram na hora certa para aproveitar que o Inter se lançava meio que desesperado em busca do empate. Ruiz, então, foi demais. Além de dois gols, conseguiu enlouquecer o argentina que gosta muito de debochar quando vence, mas que não admite o mesmo quando perde.
Diante de tudo isso, é inegável o mérito de Luiz Felipe Scolari – o grande comandante, mais que um motivador, um estrategista – nessa vitória redentora que sinaliza a volta aos bons tempos.
Quem viver, verá.