A imprensa e o entorno do Beira-Rio

Deus é testemunha – sim, eu acredito em Deus – que eu evito ao máximo escrever sobre a imprensa futebolística ou grenalística, mas tem vezes que não resisto e impulsionado pelos diabinhos que me cercam e tentam me levar ao mau caminho dou meus pitacos.

Deus é testemunha também que luto muito contra a ideia propagada entre os gremistas em geral de que a mídia usar dois pesos e duas medidas para fatos envolvendo a dupla Gre-Nal.

Tem momentos, porém, em que a represa estoura. É o caso do que aconteceu ontem no Beira-Rio e em seu entorno.

Se por uma lado foi uma noite maravilhosa para os colorados, que festejaram a bela vitória sobre o time chileno, por outro lado não se pode minimizar o que aconteceu junto ao estádio: o confronto violento entre soldados da Brigada Militar e torcedores e, principalmente, os dois atropelamentos – um deles com óbito – ocorridos na avenida, espaço público invadido por uma entidade privada, prejudicando o deslocamento de pedestres especialmente em dias de jogos. Ou seja, o leito da avenida tornou-se território de alto risco para os torcedores.

Algo, aliás, alertado faz tempo por blogueiros e desprezado pela mídia em geral, muito mais preocupada em exaltar o ‘estádio da Copa’ sem qualquer enfoque minimamente crítico, o que é deplorável. Houve até jornalista que se prestou a elogiar a invasão de área pública dizendo que era uma formidável integração do público com o privado.

Nesse aspecto, o advogado Demian Diniz e o engenheiro RW com a sua consagrada corneta – entre tantos outros – foram mais jornalistas que a grande maioria dos jornalistas.

Demian em seu blog de hoje resume tudo:

“Nós avisamos.
Quando houve a “interação inédita na cidade”, nós avisamos.
Dissemos que era um perigo ter um estádio de futebol invadindo uma avenida.
Que seria muito arriscado ter torcedores circulando em uma calçada minúscula, ao lado de uma avenida.
Que os torcedores circulariam na própria avenida e poderia ocorrer uma tragédia.
E aconteceu.
Ontem, dois torcedores foram atropelados no Beira-Rio, ops… NA CAPITAL, como diz a ZH.
Um deles, faleceu.
O outro está em estado grave.
Na Copa, chegaram a colocar uma grande entre a calçada e a pista, quando deveria ser entre o estádio e a calçada… mas como tem a Integração Inédita na Cidade, e o estádio está dentro da avenida, não tem como fazer isso.
É a segunda morte de atropelamento no Beira-Rio recauchutado.
Claro, mas o problema é o entorno da Arena”.

Em outro post, Demian escancara o tratamento diferente para as sedes do Grêmio e do Inter. Confira em:

http://www.blogdodemian.com.br/2015/02/comparem-as-manchetes.html

Inaceitável também é o tratamento dado pelos jornais de hoje aos lamentáveis episódios de ontem à noite junto ao Beira-Rio, faço questão de frisar para não deixar dúvidas de que coisas ruins acontecem em qualquer lugar, e não têm coloração clubística.

As manchetes exaltam na capa – ou contracapa – a vitória colorada, e isso está mais do que certo, mas simplesmente omitem os incidentes ocorridos fora do estádio, tão ou mais relevantes do que o jogo em si, já que um torcedor morreu atropelado na tentativa de ir ao jogo, e o confronto entre torcida e BM foi realmente pesado, como mostram fotos que andam circulando nas redes sociais.

Aí, um gremista me liga de manhã cedo: ‘Imagine se essas coisas acontecem no entorno da Arena?’, comentou.

Nem quero imaginar.