O problema da Seleção Brasileira é de caráter. Se ‘Macunaíma, o herói sem nenhum caráter’, de Mário de Andrade, é o símbolo de um povo em busca de sua identidade, a Seleção Brasileira, hoje, simboliza a apatia da grande maioria da população diante de sucessivos escândalos que corroem a economia do País e dos fracassos do outrora melhor futebol do mundo.
Precisamos, agora, encontrar a identidade do nosso futebol.
Em outros tempos era mais fácil, ou não tão difícil vencer a maioria dos vizinhos e os europeus. Nossa técnica superior prevalecia. Hoje, essa técnica já não é tão superior – até os japoneses, coreanos e outros evoluíram.
Precisamos muito mais do que dribles e lindas jogadas, até porque nossos adversários também driblam e fazem belas jogadas.
A diferença é que eles, nossos antigos fregueses de caderno, ou sem caderno, fazem algo mais.
Nada dessa bobagem de que nossos jogadores usam tatuagens demais ou que estão desgastados, como se os outros, esses que já não tremem diante da ‘amarelinha’, não usem tatuagens em abundância e igualmente não estejam cansados. Nem os árbitros que antes nos ajudavam, hoje nos tratam de igual para igual – ora vejam só! -, num sinal muito claro que estamos nos aproximando do fundo do poço.
Se não tomarmos cuidado, podemos ficar de fora da próxima Copa do Mundo. Alguém duvida? Imaginem como ficará uma rede Globo, que já comprou os direitos do Mundial…
A diferença que vi, por exemplo, entre jogadores paraguaios e brasileiros, é o caráter. Assim como na Copa do Mundo, continua faltando temperamento, fibra. Está faltando aquilo que Dunga andou criticando num adversário: jogar por um prato de comida. Jogar como Dunga sempre jogou e hoje não consegue transmitir aos seus jogadores. Falta fibra, energia e gana de vencer. Tudo isso sobra nas seleções que vi nesta Copa América. Seleções que, como o Brasil, são formadas por jogadores que atuam na Europa.
Os jogadores estão refletindo em campo o caráter dos nossos comandantes, em todos os setores e instâncias.
Como incutir nesses jogadores a vontade de jogar por um prato de comida, jogar com doação e garra, se o escudo que eles usam na camisa é de uma entidade como a CBF, que tem um ex-presidente preso por corrupção no futebol. E mais: eles olham para o lado e dão de cara com um dirigente que até pouco tempo fazia negócios com jogadores, conforme lembrou o sempre craque Zico. São apenas dois exemplos negativos. Há muito mais.
Poderia citar o técnico Dunga, sempre protagonizando situações constrangedoras, inclusive para ele próprio, mas principalmente para o futebol brasileiro, como aquele bate-boca com um argentino, conforme registrado no blog cornetadorw. É essa a postura de um técnico da Seleção Brasileira, seleção que segundo os ufanistas de sempre representa a pátria verde-amarela?
Os jogadores, é visível, entram em campo como o funcionário que acabou de bater o cartão ponto de entrada e só espera passar 90 minutos para pegar o paletó e bater o ponto da saída do expediente. Eu não os condeno. Tampouco torço por eles. Aliás, cada vez mais cresce o número de pessoas que não estão nem aí para a seleção.
Então, esse grupo indolente, macunaímico, ainda teve a infelicidade de ser comandado por dois treinadores em má fase – vamos deixar assim. Felipão na Copa e Dunga agora. Os dois já realizaram bons trabalhos na Seleção. Mas agora fracassaram, e por culpa deles também. Os dois não souberam montar equipes competitivas quando perderam Neymar. O que é um atestado de incapacidade.
Essa questão do caráter avança também sobre alguns analistas. Uns tratam de blindar Dunga sabe-se lá por que. Os mesmos que detonaram Felipão hoje amenizam com Dunga sob o argumento, pífio, de que falta time. Não posso acreditar que estão grenalizando um assunto tão sério.
Não aceito a tese de que falta qualidade. Devo concluir, então, que a qualidade do time paraguaio é superior a do Brasil? Óbvio que não. Há ótimos jogadores, o que falta é, principalmente, recuperar em cada jogador o antigo orgulho de vestir a amarelinha.
Já seria um bom começo, mas não é fácil, porque não há indicativos de que a estrutura do futebol brasileiro sofrerá qualquer alteração.
Até lá vamos continuar jogando como onze macunaímas, um time em busca de sua identidade.
GRÊMIO
O técnico Roger faz um bom trabalho. Surpreendente até, porque não ganhou reforços. A auto-estima dos gremistas aumentou. É visível.
O torcedor está começando a acreditar que algo especial pode acontecer.
Há entusiasmo. Confiança. Esperança. Por isso, acredito que a Arena, apesar do horário ingrato, terá mais de 30 mil gremistas a empurrar o time contra o Cruzeiro.
Uma vitória colocará o time em posição de liderança do Brasileiro, coisa que poucos acreditavam até poucos dias atrás.
Ah, esse time do Roger já provou que tem caráter. Pode faltar um pouco mais de futebol, mas caráter tem de sobra.