Rafael Sobis foi surpreendente ontem à noite, no Beira-Rio. Surpreendente ao menos para mim, que não esperava tamanho empenho de um jogador tão identificado com seu ex-clube diante de 45 mil torcedores que um dia vibraram com os gols de Sobis.
Não duvido que a atuação digna, profissional e competente de Sobis num jogo tão importante para o Inter tenha contribuído para Sobis ser mais um a ser triturado pela máquina de moer ídolos colorados.
Confesso que vi poucos minutos do jogo em que o Inter bateu o Tigres por 2 a 1. Quando liguei a TV a tela mostrava D’Alessandro de braços erguidos no gramado, e a torcida exultando. Pensei que era o Inter entrando em campo. Não, recém havia ocorrido o gol dele, o primeiro gol do Inter. Em menos de cinco minutos. Desabei no sofá e fiquei mais alguns minutos diante da TV, olhos esbugalhados com a ruindade do Tigres, ao menos naquele momento. Em seguida, o segundo gol. Em ambos os gols, descuidos amadorísticos de um time que teoricamente deveria trabalhar pelo empate, que seria um ótimo resultado para o visitante.
Foi mais ou menos nesse período que Sobis foi para cima de Geverson, o lateral de Dunga, após levar uma entrada maldosa por trás, lance para cartão amarelo. Pensei com meus botões: o Sobis está cavando uma expulsão para ajudar o seu time do coração. Sim, paranoia minha, teoria da conspiração, sim. Estou envergonhado por pensar tão mal do Sobis, que depois se revelou um jogador perigoso para o Inter, inclusive fazendo a jogada do gol do Tigres, um gol que só vi hoje, porque desliguei a TV assim que o Inter abriu vantagem de 2 a 0 em menos de dez minutos.
Então, me parece que eu e a torcida colorada projetamos a atuação de Sobis da mesma forma. Não esperávamos um Sobis tão interessado em vencer o ex-clube.
A diferença é que eu aplaudo a atuação de Sobis, que, na verdade, nada mais fez do que cumprir sua obrigação profissional. Já o colorados ficaram indignados, se sentiram traídos.
O fato é que Rafael Sobis, herói de duas Libertadores coloradas, saiu de campo vaiado e ouvindo xingamentos de tudo que é tipo. Ele visívelmente ficou chateado, decepcionado. “Vaia é normal, xingamento não”, disse ele, ressentido.
Agora, Sobis não precisa ficar assim tão magoado. Ele passa a integrar a galeria dos ídolos que em algum momento foram massacrados pela própria torcida. No Inter, a lista é extensa, e tem alguns nomes graúdos, por exemplo: Dunga, Falcão e Fernandão.
Ídolos gremistas também já sofreram tratamento um tanto cruel e com certeza ingrato. É o caso, acreditem!, de Renato Portaluppi, Felipão e até Fábio Koff. Nada menos que o trio mais vitorioso da história do clube. Mesmo assim, é evidente que o Grêmio trata melhor seus ídolos na relação com o Inter.
Mas faz parte: o torcedor em geral é um moedor de ídolos, que somente são ‘absolvidos’ com a morte. E aí passam a ser reverenciados até o fim dos tempos.
O JOGO
O Tigres levou dois gols de forma ridícula. O primeiro, então, foi um absurdo. Abriu-se uma clareira diante da grande área, D’Alessandro ficou completamente livre para chutar. Depois, o gol de Valdívia, que só aconteceu porque desviou no caminho. Mas vale. Depois, o Tigres equilibrou. Teve, bem no começo do segundo tempo, uma expulsão que me pareceu justa pelo que vi na internet, mas isso se o zagueiro mexicano já tivesse um cartão amarelo. Vermelho direto, nunca. Não fosse a expulsão, acredito que o Tigres até virasse o placar. Teria ocorrido, ainda, um pênalti contra o Inter, mas esse lance eu não vi nos compactos do jogo.
Previsão: se as arbitragens continuarem com seus erros humanos só contra os rivais, o Inter será campeão da Libertadores. Se pararem os erros humanos, o Inter vai entrar numa espiral negativa com consequências inimagináveis.