O atacante azarão e o pé-murcho

O Grêmio merecia ter vencido o Sport. Jogou muito mais, criou situações de gol e seu goleiro foi pouco exigido. Já o goleiro adversário, Danilo, como a maioria dos goleiros rivais nos últimos anos, se consagrou.

Tem sido assim e assim será até que algumas coisas aconteçam, a começar pela contratação de um atacante perito em fazer gols. Nem precisa jogar grande coisa, desde que meta a bola na rede adversária com assiduidade. Bobo vem aí, e pode resolver ou pelo menos amenizar o problema. Com um goleador o Grêmio estaria na liderança no Brasileiro, ou disputando pau a pau com o Atlético Mineiro.

Aliás, o Atlético é o meu time no Brasileirão. Quero que dispare de vez e conquiste o título, impedindo que um certo outro clube que sofre pesadelos com tigre o conquiste. Mas e o Grêmio? Não, o Grêmio pode no máximo beliscar uma vaga na Libertadores, mas isso se esse Bobo der boa resposta.

Agora, revelo aqui uma descoberta que fiz assistindo ao jogo pela TV com apenas um olho. Explico: fiz cirurgia de catarata no olho esquerdo, que não pode pegar luminosidade – neste momento estou diante da tela do computador contrariando recomendação médica. Quem tem um olho é rei, diz o ditado. Não chego a tanto, mas  vi o suficiente para afirmar que o problema da falta de gols não é somente falta de um goleador.

É mais grave, quase insolúvel. O fato é que o Grêmio tem em sua linha ofensiva o maior perdedor de gols do futebol brasileiro: Luan. Mas não fica por aí: tem também o atacante mais azarão, o Braian Rodrigues.

Nada disso impede que eu continue acreditando no uruguaio e, principalmente, no Luan, um dos melhores jogadores em atividade no país. Quem joga o Cartola, no qual vou muito bem, obrigado, sabe que Luan é o atacante mais valorizado, superando Fred e Guerrero.

O problema do Luan é que ele é um perdedor de gols. Contra o Criciúma perdeu um daqueles imperdíveis, e que por pouco não eliminou o Grêmio da Copa do Brasil. Aliás, esta é a competição a ser vencida. Insisto. Parem de sonhar com Brasileirão. É como sonhar com aquela morena do ‘vai verão, vem verão’. Frustração garantida.

Lembro que nos anos 70/80- havia um meia que jogava muito. O Renato, do Guarani de Campinas. Apelido dele: Renato pé murcho. Luan é jovem e tem tempo para evoluir. Mas precisa treinar muito. Dentro da área tenta aquelas colocadas telegrafadas, manjadas por goleiro de categoria de base, e ainda por cima dá pouco peso na bola, quando não chuta para fora. De longe, quando chuta forte,ele insiste em acertar o pipoqueiro na arquibancada superior. Agora, quem bate falta com a qualidade que ele bate tem potencial para evoluir.

Já o Braian, exemplo típico do centroavante aipim, precisa de uma benzedeira. Mas aí nós já entramos no…

JOGO

Braian recebeu sua melhor bola do ano. Veio do cruzamento de Fernandinho – sim, eu também não gostei quando ele entrou, mas ele acabou fazendo alguns bons lances -, um cruzamento para consagrar centroavante aipim, rabanete ou beterraba. Braian fez como manda o Manual Prático do Centroavante Aipim: cabeceou forte no lado oposto ao do deslocamento do goleiro. Mas o ‘desgraçado’ defendeu. Um cabeceio de qualquer outro atacante menos azarão seria gol.

Agora, uma boa notícia, pelo menos para quem acredita em astrologia: em agosto Braian completa 29 anos. Estará fechando o círculo de 29 anos de Saturno. A vida dele vai mudar. Anotem aí. Na verdade, começa a mudar semanas antes. Ainda veremos um novo Braias, o Sortudo.

Ainda sobre o jogo. O Grêmio mereceu vencer. O goleiro Thiago pouco trabalho, prova do trabalho eficiente do sistema defensivo, em especial da dupla Maicon/Wallace. A linha de defensores também esteve em alto nível. Todos eles, inclusive Thiery.

Dos meias, gostei mais do Douglas. Sejamos justos. Foram dos pés de Douglas que saíram os melhores lances de ataque. Luan ciscou, ciscou e, além de perder duas boas chances de marcar, foi pouco efetivo. Giuliano se esforçou muito, mas acho que ele cai de rendimento jogando pela direita. Acho que ele deveria aparecer mais vezes pelo meio. 

Depois, Fernandinho entrou bem, mostrando que pode ser útil como opção; Braian é uma alternativa ainda insuficiente, mas uma alternativa que vai crescer nos próximos jogos, podem apostar; e Maxi Rodriguez, que pouco acrescentou, mas que merece oportunidades e até uma sequência de jogos. Na verdade, o time ficou meio perdidão com a saída de Douglas e a entrada do uruguaio.

O melhor do jogo foi o goleiro Danilo Fernandes. O melhor do Grêmio foi, claro, Pedro Rocha. Mas o time de modo geral esteve em nível muito bom.

Sim, Thiago falhou no gol do Sport. E agora? Grohe não serve, Thiago também não. E agora? Pra mim, são dois ótimos goleiros. O Grêmio está bem servido de goleiros.

Pelo menos é como eu vejo com esse meu olho direito.