No final de Casablanca, o chefe de polícia ordena que, diante de um crime que ninguém espera ver solucionado, sejam presos “os suspeitos de sempre”.
No futebol brasileiro, o Grêmio é não apenas o suspeito de sempre, mas o culpado de sempre.
No caso do racismo, a pena foi simplesmente a eliminação da Copa do Brasil. Entre os auditores, um sujeito que escancarava racismo nas redes sociais, o que não impediu um voto duro contra o Grêmio.
De lá para cá, outros casos de racismo ocorreram em inúmeros estádios do país, inclusive no Beira-Rio. Ninguém restou punido.
Agora, quando o Grêmio volta a disputar uma final de competição nacional, depois de longa estiagem, os doutos do Superior Tribunal de Justiça Desportiva -, título pomposo para um organismo que deveria ser justo e isento -, têm outra oportunidade para punir o “culpado de sempre’.
E eles, como uma alcateia ensandecida, atiram-se sobre a presa com fúria.
Curioso para saber se o fato envolvesse algum outro clube, qualquer outro clube da série A, a punição teria efeito tão danoso, tão arrasador.
Se fosse, por exemplo, o Vasco, clube do relator, sempre um balisador para os outros auditores, lutando para subir para a série A, haveria o mesmo tratamento?
Ou se fosse o Inter, clube do presidente da Terceira Comissão Disciplinar, o sr. Sérgio Martinez?
Interessante, o auditor, assumidamente colorado, foi o único a absolver o Grêmio de pena tão rigorosa.
Mas o fez quando seu voto já não teria influência no resultado: a perda do mando de campo do Grêmio na partida final da Copa do Brasil.
Menos mal que cabe recurso.
O Grêmio vai recorrer, e tudo indica que irá reverter decisão tão estapafúrdia que vê no abraço de pai e filha à beira do campo um caso de invasão.
Acredito que o jogo será na Arena. O bom senso irá prevalecer.
Se a ideia era de pelo menos tumultuar o ambiente gremista, o objetivo já foi alcançado.
Se havia também o propósito de voltar aos holofotes – o STJD anda meio esquecido -, isso também foi atingido.
E se era reforçar que o Grêmio é mesmo o grande “culpado de sempre”, nada há a questionar.
O pior é que nada vai mudar: o tribunal vai seguir assim com suas decisões surpreendentes, muitas usando dois pesos e duas medidas sem o menor constrangimento.