O torcedor de futebol é um implicante.
Lembro que não gostava das entrevistas do Tite em sua passagem – vitoriosa – pelo Grêmio. Parecia um autor de livro de autoajuda. Na redação do Correio do Povo eu o chamava de Lair Ribeiro. Pura implicância.
Mas sempre reconheci no Tite um grande treinador. Aliás, tempos depois de sua saída por causa daquela bobagem das ovelhinhas, escrevi que por mim Tite teria contrato vitalício com o Grêmio. Ou quase isso.
Desde, é claro, que mudasse o seu discurso, que hoje está bem melhor.
Então, também sou um implicante. Hoje, por exemplo, implico com quem implica com Renato Portaluppi, o melhor treinador em atividade no futebol brasileiro.
Tem gente que implica com o jeito marrento do Renato, com sua sinceridade, com suas frases provocativas, com sua mania de dizer a toda hora “meu grupo” (acho que não precisava repetir isso).
Tem até gente implicando quando o Renato não se contém e solta um “sou gênio”, coisa que eu mesmo faço quando tenho uma boa ideia (o que é raro) ou quando elaboro uma frase genial (o que é mais raro ainda). Li que o Paulo Sant’Ana também soltava seguidamente um “sou gênio” na redação da ZH. Quem nunca?
O torcedor implica com qualquer coisa, principalmente quando o alvo é um jogador que ele não gosta.
Hoje, o preferido de nove entre dez gremistas (exagero, claro) é o Marcelo Grohe. Já li nas redes sociais um pessoal implicando com o fato de Grohe ser muito religioso.
Outros implicam com a cara de bom moço do Grohe, o genro que todo pai quer para sua filha.
Quase saí de costas quando descobri que há gremista implicando com o cabelo de Grohe. Um amigo meu é um deles. Tem até um grupo no whats só pra falar do goleiro gremista. E aí dá de tudo.
Mas o que tem o cabelo do Grohe?, perguntei, e logo me arrependi de ter levado a conversa adiante.
Meu amigo (fã ardoso do Danrlei com seu jeito de bad boy, antes de entrar para a política) respondeu, e eu vou resumir:
-O Grohe tem o cabelo engomadinho, todos os fios no lugar. Goleiro não pode ter cara de bom rapaz. Goleiro não pode ser todo certinho. O problema é que o Grohe é tão certinho que até quando quer cometer algum tipo de malandragem no jogo acaba exagerando, como no caso das tentativas de fazer cera pra ganhar tempo. E aí o juiz flagra a falsa malandragem, justamente porque Grohe não é malandro. Esse negócio de enganar a arbitragem não combina com o jeito do Grohe. Pra começar, ele teria de parar de usar Gumex no cabelo.
Esqueci de dizer, esse meu amigo é um sobrevivente dos anos de chumbo do Grêmio, a década de 70. Gumex era um fixador de cabelo dos anos 50, que durou até anos 60/70.
A título de curiosidade. Tem uma frase, criada pelo grande Ari Barroso – autor do clássico Aquarela do Brasil -, que era narrador de futebol. Num determinado jogo lascou uma frase que é repetida até hoje:
– Dura Lex sed Lex, no cabelo só Gumex.
Sei lá se Grohe usa Gumex ou coisa parecida, isso realmente não importa. O fato é que ele tem sido condenado até quando não falha, como aconteceu no empate com o São Paulo. A meu ver, pura implicância.