Se Renato recuar no tempo verá que a sua relação com Éverton lembra bastante a que viveu como jogador do técnico Ênio Andrade em seu início no Grêmio.
Eu era setorista do clube pelo jornal Folha da Tarde. Eu e o Marco Antônio Schuster, que hoje desfruta, merecidamente, do clima europeu de Gramado. A gente enchia a concorrência de furos. Está bem, não era tanto assim.
O Schuster, pra quem não sabe, foi o alvo que Renato tentou acertar durante um treino, virando-se para a casamata do lado da social do Olímpico, batendo e tirando um fininho (como se dizia) do Schuster.
Renato era assim, brincalhão quando podia brincar; e sério quando se exigia seriedade. Penso que ele é assim até hoje.
Já naquele tempo, no alvorecer dos anos 80, ele fazia a alegria dos repórteres com suas tiradas nas entrevistas e, claro, lances surpreendentes como esse envolvendo o Schuster e que muita gente pensa que ocorreu comigo (éramos muito parecidos).
Renato vira e mexe salvava as edições de jornais com frases de efeito, comportamento irreverente (irresponsável para os mais conservadores) e atitudes e declações que fugiam ao padrão dos jogadores de futebol e que hoje ele repete como treinador.
Quando ele foi embora para o Flamengo por 600 mil dólares, em quatro parcelas que o clube carioca sempre atrasou, eu senti muito porque desfalcava o Grêmio, mas principalmente porque perdia uma fonte de notícias e bom-humor.
Bem, para não me estender nas memórias, vejo no Éverton o Renato do passado, dentro de suas devidas proporções, claro.
Renato buscava um lugar no time, estraçalhando nos treinos e quando entrava nos jogos. Mas Tarciso era o titular, jogador da confiança de Ênio Andrade. Tarciso era, também, o tipo do profissional que os técnicos gostam, aplicado, obediente, tático, etc. O contrário de Renato.
Mas Renato jogava mais, com todo respeito aos fãs do Flecha Negra. Nos treinos titulares x reservas, Renato sempre se destacava. Seu marcador, Dirceu Jarrão, sofria.
Hoje, Renato tem o seu Tarciso (Fernandinho) e o seu Renato (Éverton).
Éverton (como Renato naquele tempo) está pedindo passagem. Renato tem suas razões para optar por Fernandinho. Prova de que até os mais irreverentes têm o seu lado conservador.
Ao barrar Éverton, ele está, de certa forma, concordando com Ênio Andrade, que preferia Tarciso – como hoje ele opta por Fernandinho -, decisão contra a qual Renato se rebelava. E nós setoristas, em sua maioria, também. A gente sempre destacava as atuações de Renato nos treinos tentando influenciar o técnico.
Agora, tantos anos depois, Renato se depara com situação parecida. Por enquanto, ele está mais para Ênio Andrade.
Mas acho que não vai resistir muito tempo, assim como o velho Ênio não resistiu.