É fascinante e intrigante esse mundo dos torcedores de futebol. No meu tempo de jornalista esportivo, atividade que exerci até abril de 2010, não havia essa quase histeria coletiva que aproxima e afasta as pessoas, dependendo das circunstâncias.
As redes sociais deram voz ativa aos torcedores, que antes eram agentes quase passivos, restritos à participações em programas esportivos via telefone, carta, fonograma, pombo correio… É um mundo em efervescência, em ebulição.
O fato é que os jornalistas esportivos já não falam sozinhos. Há toda uma legião de torcedores querendo opinar, informar, trocar ideias, debater, elogiar, atacar e ofender. E são ofensas muitas vezes agressivas demais, em tom raivoso, beligerante.
Estamos diante do crescente empoderamento – nunca pensei que fosse empregar essa palavra – do torcedor. Quem não tem blog, tuíter, face entra nos espaços dos outros para exercer esse poder, nem que para isso apele para a ignorância algumas vezes.
Com isso, sucedem-se os conflitos. E não só gremistas x colorados ou torcedores x jornalistas. O pau tá pegando firme entre torcedores do mesmo clube. Sabe aquelas brigas nos estádios, aqueles ‘bolinhos’ entre torcedores logo apartados? É guerra de travesseiro perto do que acontece nas redes sociais, que em alguns casos só não resultam em agressões físicas porque o embate é virtual.
No caso dos gremistas, que eu acompanho de perto, é impressionante como tudo pode ser motivo para divergência, tomada de posição, radicalismo. Quem não pensa igual ou parecido se torna adversário, ou até inimigo. E por questões muitas vezes banais, insignificantes. Tudo ganha uma dimensão desproporcional ao fato.
Vejamos: aqueles que basicamente elogiam o Grêmio como um todo, sem entrar muito em detalhes, são taxados de oficialistas, chapas brancas. Já os que criticam até a roupa do Renato à beira do campo são os amargos, os urubulinos, apelido carinhoso que eu apliquei numa galerinha rançosa que mais critica do que comemora, e que parece estar sempre se vacinando contra futuras frustrações e decepções.
(Mas, que, se tudo der certo, estará comigo na Goethe no final do ano.)
Bem, se entender que a direção do Grêmio, a comissão técnica e os jogadores estão fazendo um trabalho de alto nível de forma geral – os resultados estão aí para comprovar – é ser chapa branca, então não resta dúvida, sou chapa branca.
Agora, nunca deixo de destacar o que considero errado, mas não é muita coisa, são detalhes. Já os mais, digamos, críticos, são uns implicantes antes de tudo, em especial com o Renato. Se ele opta por Jael, é por bruxismo, não porque se trata de um jogador que mantém o esquema no caso da ausência de Lucas Barrios. Idem para alguns outros do grupo, como o Fernandinho.
Já eu penso diferente: o Renato conhece melhor o potencial técnico e emocional de cada jogador, as alternativas não são tão melhores assim, então que se dê crédito a quem já provou qualidades. Eu prefiro o Éverton ao Fernandinho, mas não faço disso um motivo para atacar e ofender o treinador. Quem quiser fazer, que o faça
Eu vejo alguns jogadores insuficientes no grupo, mas ainda assim o Grêmio está avançando. Muito por causa do Renato, que, apesar de perdas significativas em relação ao time que venceu a Copa do Brasil 2016 com uma campanha espetacular, consegue manter um bom padrão de jogo quando conta com os titulares ‘sobreviventes’.
“Ó, olha o chapa branca se manifestando”, vão dizer. Por outro lado, tem gremista cobrando o mesmo padrão de jogo que havia na reta final da CB, quando o Grêmio encantou o país com um futebol bonito e efetivo. Ignoram que o time sente a perda de Maicon, Douglas e Pedro Rocha. Sem contar o Bolanos, contratado a peso de ouro.
Hoje, infelizmente, em função de desfalques sucessivos e ausências irremediáveis (Maicon, Douglas, Pedro Rocha), o toque de bola já não é o mesmo, e Renato teve de buscar outras soluções, nem sempre as ideais em função da limitação do grupo.
Muitos gremistas pensam como eu, não no todo, porque aí seria impossível. Mas há quem pense diferente, também não no todo, mas em alguns aspectos. O importante é aceitar quem pensa diferente. Portanto, é possível conviver com um mínimo de respeito, harmonia e civilidade. Eu disse um mínimo, porque mais que isso é quase impossível.
Nunca haverá unanimidade, nem na mesa do bar com meia dúzia de gremistas nem no whats, blog ou no twitter, com seus milhões de torcedores que formam um gigantesco coro de gente ansiosa para ser protagonista em todo esse processo que envolve o futebol, fiscalizando, opinando e cobrando.