Participar de uma decisão de Mundial é um momento raro na história de qualquer clube.
Quem está vivendo essa emoção pela primeira vez deve aproveitar cada segundo, cada minuto, cada volta do ponteiro das horas.
Sabe-se lá quando essa situação se repetirá. No caso do Grêmio, foram necessários 22 anos desde a segunda participação, em 1995, quando o título escapou por causa de uma decisão estapafúrdia do juiz (expulsão de Rivarola por causa das imagens do telão) e depois em função dos pênaltis desperdiçados por Arce e Dinho, exímios batedores.
Do primeiro Mundial, em 1983, para o segundo, o intervalo entre um e outro foi menor, 12 anos.
Bem, só por aí se percebe que realmente este é um momento único para a nação gremista, que busca o bi do Mundial – como destaquei acima, seria o tri. O título caiu no colo do Ajax.
Desculpem se insisto nisso. É que a ferida, apesar de tanto tempo, não cicatrizou. Continua a mágoa, o rancor, o ressentimento.
Muitos gremistas não passaram por esse trauma. Menor quantidade ainda padeceu no inferno que foram os anos 70 – com exceção do glorioso 1977, que até virou livro, excelente por sinal.
Tudo isso pra dizer que eu sou um cascudo. Sobrevivi aos três títulos nacionais do Inter. Confesso que até hoje tenho pesadelo com o Valdomiro cruzando e o Escurinho marcando de cabeça no último minuto.
Sim, sou um traumatizado. Mas tive a felicidade de viver e saborear cada minuto da vitória sobre o Hamburgo, não plenamente porque estava trabalhando para escrever sobre a decisão para a revista Goool, do Aveline.
Em 95, torci na redação do Correio do Povo. Se na primeira vez estava acompanhado de um grupo de gremistas, na segunda tive de aguentar a secação dos colegas vermelhos.
Importante frisar que quando a gente acompanha um jogo a trabalho o envolvimento emocional é menor, no meu caso quase zero.
Depois, sim, a gente explode, ri ou chora, coloca a emoção contida, reprimida, pra fora. Normalmente num boteco de cerveja barata e sanduíche de lombo. Ou de mortandela, como dizia um velho um amigo meu.
Enquanto escrevo essas linhas apressadas – uma forma de reduzir a tensão da expectativa do jogo desta tarde contra o Pachuca -, recuando um pouco no tempo, não posso deixar de lembrar de dois velhos colegas da Folha da Tarde, o Luís Fernando Flores e o Fernando Goulart. Ambos se foram deste mundo nos últimos dias. Profissionais corretos, sérios, como quase não se vê.
Antes que as lágrimas se avolumem, volto ao início: curtam cada momento dessa decisão, porque a próxima só Deus sabe quando virá (além do mais pensem nos milhões de torcedores de outros clubes que gostariam de estar no lugar do Grêmio agora).
Eu, provavelmente, estarei ao lado do Flores e do Fernando, bebendo umas e jogando conversa fora. Eu, claro, com a camisa do Grêmio, como nesta tarde quando estarei torcendo pela vitória.
Se os deuses do futebol forem justos irão compensar o Grêmio pelo que aconteceu em 1995.