Começo com uma confissão: sou secador juramentado da seleção. Teve alguns momentos na vida em que eu torci muito, como na Copa de 70. Mas eu era guri, acreditava em muita coisa, tinha a pureza no coração.
O tempo faz isso com a gente, além de danificar algumas peças internas e nos impor rugas, nos torna duros, críticos demais, descrentes, amargos como underberg com limão.
Quando estou em família, eu não seco, fico em silêncio e se o Brasil perde um gol eu faço um breve comentário – gelado como o nosso clima por esses dias – consolador, tipo ‘foi por pouco, na próxima entra’. Faço um olhar compungido
Nesse jogo contra a Suíça nem cheguei a secar. Não vou perder meu tempo e minha energia secando um timeco de segunda linha no futebol mundial. É como secar o Inter contra o Ceará, perda de tempo. Às vezes até que não.
Fui um mero telespectador, um dos ‘amigos da Rede Globo’, como diz o Galvão Bueno. Antes que me xinguem, adianto que gosto das narrações ufanistas do Galvão. Quando mais ufanistas, melhor. Elas reforçam o meu desprezo por todo esse circo verde-amarelo.
Não me perguntem quando foi que eu comecei a secar a Seleção. Não tenho muita certeza. Acho que foi em 1974, quando convocaram o Valdomiro – jogador operário, eficiente, mas sem condições de honrar a camisa que foi de Garrincha. Fiquei muito irritado. Queria também o Zico, que surgia com brilho no Flamengo do gaúcho Carlos Froner, e foi esquecido por Zagalo.
Ah, nunca gostei do Zagalo. Outro motivo para secar a seleção em outras Copas. Em 2002 fiz uma pausa por causa do Felipão, e apesar do boleiro aquele. Não sequei, mas também não fui daqueles torcedores que soltam a franga e abraçam como se tivessem acabado de receber um aumento generoso de salário ou uma promoção.
Comecei a trabalhar em 1978, na Folha da Tarde. Minha primeira Copa como jornalista, portanto, foi em 1982. Quero dizer que sequei, discretamente, mas sequei.
Antes de falar do jogo deste domingo, faço uma pequena ressalva: eu seco, mas sem fanatismo. Não é como secar o Inter, muito mais divertido. É uma secada que sai no automático essa que eu faço nos jogos da seleção.
Estranho, o Tite – o técnico que eu queria vitalício no Grêmio, antes de aparecer Renato – seria um motivo forte para eu dar uma torcidinha. Não consigo. Estou pensando em consultar um psicanalista.
O JOGO
Sobre o jogo: aconteceu mais ou menos o que previa: muita dificuldade. Foi assim com a Alemanha, a Argentina, a França. Primeira rodada da Copa é propícia a essas zebras, que cada vez mais vão deixando de ser zebras porque há um nivelamento crescente no futebol.
A seleção do Tite foi melhor e merecia vencer, mas ficou longe de mostrar o futebol ‘maravilhoso’ cantado em prosa e verso pelos faceiros de plantão antes do jogo, talvez até para agradar seus anunciantes, que eles não estão jogando dinheiro pela janela, etc. O empate foi até um castigo pelo que fez o time em campo.
Leio e ouço muitas críticas ao juiz mexicano por não ter marcado falta no zagueiro Miranda. Foi falta, falta que deveria ser marcada na hora – afinal, pra que serve esse monte de juizinhos?
Eu sou secador, mas não estou aqui para mascarar o que penso. E estou bem de visão.
ERROS
Agora, o grande erro no lance foi do goleiro. Ele ficou estático, petrificado embaixo do travessão. Se desse dois passos, poderia soquear a bola com facilidade, porque não havia um aglomero na disputa entre o suíço e o Miranda, visivelmente empurrado nas costas.
Errou o juiz, mas foi por ruindade mesmo. Curioso, o Brasil que sempre foi o queridinho das arbitragens sendo prejudicado. O mundo está mesmo mudando. Mas haverá compensações, aguardem.
Esse juiz mexicano mostrou sua incompetência logo nos primeiros minutos quando Neymar foi puxado de forma escandalosa no meio de campo quando se livrava de um marcador. O suíço sequer levou o amarelo, apenas uma advertência ao pé do ouvido do juiz Chapolim Colorado, algo assim: “Não faz mais isso, que é feio”. Como seria em espanhol?
Agora, no lance do suposto pênalti no Gabriel Jesus, depois de ver pela segunda vez, afirmo que foi lance normal, aquele agarra-agarra tradiconal. Gabriel se atirou. Então, vamos parar com essa choradeira.
Em resumo, ojuiz errou no lance do gol e acertou no do suposto pênalti. Nem preciso enfatizar que essa é minha opinião, porque sou que estou escrevendo com os dedos virando pequenos picolés.
VAR
A ideia do VAR é muito boa, mas nunca será o que dele se espera: o fim das injustiças no futebol.
Onde tem o olho humano, é impossível haver justiça plena.
O VAR já mostrou sua importância nesta Copa, mas também apontou que os problemas vão continuar, em menor escala, mas vão continuar.
No gol de Zuber, o VAR evitaria o erro se fosse utilizado pelo juiz. Vira e mexe, é o homem decidindo, não a máquina. Poderia ser diferente? Talvez algum dia, não agora.