Um velho amigo gremista, agitando um ingresso para o jogo desta noite, me perguntou o que eu espero dessa decisão contra o Estudiantes. Fiquei sem resposta por um instante. Estava diante de um urubulino, um desses gremistas críticos permanentes, tão gremistas que vivem temendo pelo pior, até como forma de atenuar o impacto de um eventual resultado negativo. Vacina, mesmo.
Decidi atormentar o amigo, um dos tantos (assim como eu), que sobreviveram aos anos de chumbo, a década de 70 colorada, que me deixou traumas e rancores eternos.
-Olha, se não fosse a obrigação de vencer por dois gols de diferença – sim, eu temo que um gol argentino é inevitável -, eu apostaria todas as fichas na classificação. Do jeito que está posto, será muito difícil -, disse, caprichando na cara de agente funerário.
Expliquei: veremos na Arena a maior retranca já armada em todos os tempos. Será uma muralha formada por uma linha de cinco defensores com mais quatro à frente, e apenas um argentino mais adiantado.
Continuei: o grande perigo são os contra-ataques. O Estudiantes tem uns jogadores muito rápidos e habilidosos no meio de campo e no ataque. Se sair um gol, já viu, será um inferno.
-Tu estás muito pessimista – protestou ele. Eu já estou nervoso e tu vens pregar terror…
-Não, estou pensando como vocês, que vivem criticando o Renato e não param de prever fracassos, e isso depois de quatro títulos em menos de dois anos. Vivem dizendo que o time é velho, e realmente tem alguns que não suportam 90 minutos em ritmo de competição, mas eles poucos meses atrás ajudaram o Grêmio a encantar o país e a conquistar títulos, coisa que a gente já tinha esquecido de como é. Sobre o Renato, tem um comentarista na praça que não consegue dizer que ele é treinador, e sim um gestor de vestiário. Tenham paciência!
Ele me encarou com um sorriso no canto da boca.
-Tudo isso é tensão pré-decisão?
-Pode ser, mas tem gente que passa o tempo todo agourando, catando aqui e ali motivos para criticar o trabalho. Isso é irritante. A verdade é que acredito na classificação. Realmente, não será fácil, ainda mais se tiver gremista murmurando a qualquer errinho. Mas eu acredito no trabalho de Renato, discordo de algumas coisas, mas o técnico de futebol precisa acima de tudo ter coerência, convicção, porque se não ele está perdido. Renato optou pela Libertadores. Radicalizou. Mas pelo que ele já fez até agora, tirando o Grêmio da fila, não tenho por que não acreditar que ele está fazendo as opções mais adequadas, dentre as que possui, para levar o time ao tetra da Libertadores.
Abracei meu velho companheiro de arquibancada do Olímpico, e cochichei. “Torcedor que é torcedor acredita sempre, não será agora que iremos mudar. Rumo à vitória”!