Não me convidaram pra essa festa pobre… Não me sai da cabeça essa frase do grande Cazuza, e eu fico cantarolando por aí, nem sei bem por que. Quer dizer, sei, mas com troca do adjetivo ‘pobre’ por ‘rica’.
Sim, tem uma festa rica rolando por aí. Não, não é em Jurerê Internacional com seu desfile de Ferraris, ou em Fernando Noronha com as belas atrizes globais, ou em Miami.
A festa a que me refiro acontece no futebol, mais exatamente em Rio e São Paulo, onde dois clubes navegam em águas mornas, límpidas e transparentes. Nelas Palmeiras e Flamengo deslizam em iates deslumbrantes, sem ligar para a crise no entorno.
E o entorno é de quase miséria. Os clubes com gestões responsáveis, como a do Grêmio, sofrem como eu, nos meus tempos de piá em Lajeado, louco para entrar numa festa, mas sem dinheiro até para o sanduíche de mortadela, esse mesmo que era distribuído fartamente na recente eleição.
Sem o dinheiro que abunda no Palmeiras e no Flamengo, o Grêmio sua para repor peças e reformular o grupo, enquanto os dois novos marajás do futebol brasileiro vivem numa bolha de felicidade, com dinheiro demais e, por enquanto, títulos de menos.
A esperança que tenho é que essa bolha estoure, porque esses dois clubes, em sua festinha de novo-rico, regada a champanhe francês, se credenciam para grandes conquistas.
Contratam quem eles querem. Ou quase. Pelo menos atormentam a cabeça dos dirigentes e fazem sonhar os atletas cogitados. Todos querem participar dessa festa.
Está cada vez mais difícil resistir. A ofensiva no momento, a mais forte, é em cima de Geromel e Kannemann, citado por Abel Braga, o milionário técnico do Flamengo. E ainda tem os argentinos, como o Boca, por exemplo, louco para desmanchar a melhor dupla de área do futebol sul-americano.
No caso do Kannemann, parece que é o empresário dele que tenta alguma transação. Ora, o Grêmio remunera bem demais seus principais jogadores. Penso que Kannemann deveria dar uma paratequieto em seu empresário. A não ser que esteja participando desse jogo menor, pequeno, que destoa do que ele já mostrou. A camisa do Grêmio parece uma tatuagem de nascença no Kannemann, mas que aos poucos está esmaecendo diante do seu silêncio.
Resta à direção do Grêmio fazer com que Kannemann e Geromel cumpram seus contratos em vigor – os contratos não são para preservar também os clubes?
É o que me resta enquanto acompanho de fora, olhando pela vidraça, a festança dos milionários do futebol brasileiro.
“Fiquei na porta estacionando os carros…”