Entrevistei Cesar Menotti em 1979, no torneio de verão de Mar del Plata, logo após o River Plate empatar com o Inter por 3 a 3, com um gol antológico de Alonso (meia da seleção argentina, que recém havia conquistado o Mundial). Ele entrou a drible na área, iniciando com dois chapéus, e concluiu. É como me lembro, talvez com algum exagero – culpa do tempo e da minha memória.
Foi entrevista de página inteira do antigo Correio do Povo. Texto reproduzido pela Folha da Tarde e Folha da Manhã – eu acompanhava o Inter pelos três jornais numa excursão pela Argentina.
Recém formado, mal havia ingressado na empresa – comecei lá em outubro de 1978. Cabeludo, barba desgrenhada, magro (‘pele e osso simplesmente, quase sem recheio’). Enfim, cara de tupamaro. Acho que foi por isso que Menotti me olhou meio estranho quando apertei sua mão e me apresentei num portunhol razoável – resultado de minha velha paixão pelo tango.
Tudo isso só pra dizer que é de Menotti uma das frases mais verdadeiras do futebol mundial
-Aí vem os invictos -, disse, referindo-se aos jornalistas que se aproximavam para uma entrevista coletiva, provavelmente após um resultado negativo do seu time.
Os jornalistas nunca perdem. Ajeitam, moldam e adaptam suas opiniões conforme o resultado.
A afirmação do técnico argentino, hoje com 80 anos, pode servir também para os torcedores.
Aqui mesmo neste espaço a gente vê torcedores pedindo este ou aquele jogador. Se o técnico não o escala, é porque tem algo estranho e suspeito por trás, ou porque precisa privilegiar seus ‘bruxos’, geralmente veteranos.
Se ele escala o jogador, e a resposta é insuficiente, o torcedor faz o mesmo que os cronistas remunerados – os torcedores são os cronistas amadores, que opinam e dão pitaco de graça.
Ah, suspira o torcedor quando sua aposta não deu certo, ele foi mal escalado, jogou fora de sua posição. Enfim, há uma infinidade de desculpas.
Se a escalação dá certo, o torcedor estufa o peito. ‘Eu não disse?’.
Quero dizer que não há nada de errado nisso. Eu mesmo faço isso às vezes, e já fui mais cri-cri. Com o tempo, fui maneirando, e admitindo, com alguma resistência, que talvez, e só talvez, o profissional pago – e muito bem pago – para ajeitar meu time conheça tanto quanto eu. Vá lá, um pouco mais do que eu (caso do Renato agora, rsrs).
O problema é que tem gente não atingiu ainda esse nível de sabedoria futebolística, e fica aí corneteando de tudo que é jeito, até quando o time acumula vitórias e títulos.
Confesso que me irrito de vez em quando. Os urubulinos são poucos, mas ativos como militantes petistas. Não que os chapistas não o sejam, mas me parecem, com alguma exceção, mais tranquilos e sempre se mostram mais otimistas, reconhecendo o bom trabalho que está sendo feito.
Coisa que a turma da kombi reluta, talvez porque saiba que a qualquer momento tudo pode desandar, o que é muito natural, e o time fracasse dentro de campo.
E aí, finalmente, depois de três anos, eles estarão certos e irão encher a boca, ‘cheios de razão’, indignados com Renato, Romildo e cia: ‘Eu não disse?’.
LIBERTADORES
O Grêmio tem um grande desafio: somar 9 pontos nos três jogos que lhe restam na Libertadores. Creio que o time vence o Rosario, que estará bastante desfalcado, segundo a imprensa argentina.
Será o primeiro passo. Quem fora à Arena, por favor, apoie o time, e sequer murmure caso alguma lance não dê certo.
É a melhor maneira de ajudar o time neste momento difícil.
Hora de chapistas e urubulinos abraçarem essa causa. Até porque, o inimigo vem aí a mil – são três anos de tortura e muito sofrimento represado.
Esse é o nosso inimigo comum.