O dia em que o lado azul da imprensa foi campeão brasileiro

Eu ajudei o Grêmio a ser campeão brasileiro em 1981. A frase soa pretensiosa e até absurda, mas é a mais pura e cristalina verdade.

Já contei essa história aqui e nas mesas dos bares algumas vezes.

Detesto ser repetitivo, mas é preciso, porque, como dizem no rádio, o público se renova constantemente.

Vou começar pelo Odair. Em 1979 ele jogava no time júnior, e eu gostava de acompanhar os treinos da gurizada. Gostava de garimpar talentos na base.

Foi assim que vi Assis estourando nos juvenis e Renato arrebentando desde sua chegada, vindo de Bento Gonçalves, depois de meteórica passagem pelo Inter.

Pois naquele tempo havia seguidamente algum treino que a gente chamava de coletivo contra equipes juvenis e juniores.

Num desses treinos, o Odair, um ponta-esquerda forte, veloz e driblador, do tamanho do Ramiro, que gostava de jogar rente à linha do campo, estava tornando a tarde do lateral um inferno.

O técnico, em vez de acompanhar o treino, jogava conversa fora, animado, na casamata com seu Verardi e outros. Sim, era o ‘titio’ Fantoni, aquele que ganhou a final do Gauchão de 1979 contra o Inter e saiu mais cedo do Olímpico para não perder o voo.

O futebol já foi mais divertido…

Cheguei perto dele, e sugeri:

-dá uma olhada no Odair.

-Quem é o Odair?

-Esse alemãozinho que corre aqui na nossa frente, está jogando muito.

Resumindo, no final da tarde Odair apareceu pela primeira vez na lista dos relacionados do time principal. O jogo foi em Canela ou Gramado, não lembro, uma amistoso.

Depois disso, Odair ficou no grupo e, em 1981, foi campeão brasileiro. Tempos depois ele quebrou a perna num desses jogos comuns no Texas do RW.

Foi minha primeira contribuição para o título.

O principal veio depois. O Grêmio tinha um time de veteranos e emergiam da base alguns talentos.

Conservador como todos os treinadores, o grande Ênio Andrade relutava a fazer as mudanças necessária.

Foi aí que eu e outros setoristas gremistas decidimos dar um empurrãozinho para as ‘reformas de base’.

Eu e o Marco Antônio Schuster, meu colega na Folha da Tarde, convidamos outros colegas a participar de um movimento pela juvenilização do time. Lupi Martins, da Guaíba, Geanoni Peixoto, da ZH, e Roberto Tomé participaram da empreitada.

Nós enchíamos a bola da gurizada que mais se destacava: Paulo Roberto, Newmar, Casemiro, China e Odair.

O primeiro a fazer entrevista com Paulo Roberto fui eu, quando ele ainda era camisa 5 do time de juniores e da seleção gaúcha da categoria. Já o volante China, oriundo de Passo Fundo, não tinha a minha preferência. Eu gostava mais do Paulo Bonamigo, mais técnico.

Então, aos poucos a gurizada foi entrando no time, um pouco, ou muito, por causa de nossa mobilização do bem. A gente não suportava mais ficar sem um título nacional, enquanto eles já tinham três.

Felizmente, deu certo. Tenho ou não tenho razão para afirmar ‘eu ajudei o Grêmio a ser campeão brasileiro?’

ÊNIO

Lembro-me que o técnico Ênio Andrade, grande mestre, com quem aprendi alguma coisa em longas conversas à beira do campo depois dos treinos, tinha fama de retranqueiro.

Conversando com ele na véspera do jogo final contra o São Paulo, que tinha metade da seleção brasileira na época, eu sugeri que ele fizesse uma retranca.

Explico: o Grêmio havia vencido por 2 a 1 no Olímpico e só precisava de um empate. Sim, minha alma texana era forte.

Ele me olhou com uma cara de paizão diante do filho ingênuo e metido a conhecedor. E falou, sorrindo de leve:

-Pode ser, Alemão, pode ser -, e se afastou rumo ao vestiário, rodeando o cordão do apito.

Ele entrou em campo, no Morumbi lotado, com um 4-3-3, tendo Tarciso, Baltazar e Odair no ataque. E foi campeão brasileiro, num dos dias mais felizes da minha vida.

E na vida de qualquer gremista.