A polêmica envolvendo o VAR (árbitro assistente de vídeo) me lembra uma frase clássica do Chacrinha, repetida entre um e outro bacalhau arremessado para a plateia pelo saudoso Velho Guerreiro.
-Eu vim pra confundir, não para explicar.
É isso, o VAR mais confunde e atrapalha do que explica, ou contribui para melhorar o espetáculo. É tanta lambança a cada rodada do Campeonato Brasileiro que essa boa ideia pode ser colocada de lado se não forem tomadas algumas providências, a começar por tornar mais transparente as decisões tanto do árbitro de campo quanto as tomadas pelo grupinho lá de cima, árbitros que nunca terão suas progenitoras ofendidas – isto segue sendo exclusividade do árbitro de campo.
Aliás, outra medida que deveria ser adotada imediatamente: impedir que a cabine onde ficam os árbitros de vídeo seja tomada por pessoas que não estão ali trabalhando, e que podem influenciar decisões com palpites e reações típicas de torcedor. Sei que a cada flagrante da cabine a gente percebe umas cinco ou seis pessoas, não apenas os profissionais que estão ali para ajudar a arbitragem de campo.
Isso não pode continuar. Será que é assim também no exterior, na Europa principalmente?
Em princípio, essa é uma tecnologia que veio para ficar, mas aqui na terra do jeitinho, das acomodações, dos conchavos, etc ela talvez demore mais a se consolidar como algo realmente positivo.
Por enquanto, o que se constata é que, a rigor, nada melhorou. Não diria que piorou, mas os erros continuam acontecendo, só que agora com mais gente contribuindo para esses erros.
Os tais erros humanos continuam acontecendo, mesmo com a contribuição da máquina, que deveria servir para diminuir os equívocos, mas por enquanto mais atrapalha do que ajuda.
E por que isso acontece? na maioria das vezes porque há interpretação sobre o que está sendo exibido. Todos sabem que o ideal no futebol seria diminuir a possibilidade de o juiz interpretar lances, estabelecendo regras claras e objetivas, sem espaço para dúvidas.
O que temos hoje são mais profissionais interpretando lances: os do campo e os da cabine. Não pode dar certo!
Eu defendo que o juiz na dúvida deve seguir aquilo que ele viu e até intuiu de um determinado lance. Mas o que parece é que o árbitro de campo está seguindo mais a observação dos outros do que a sua.
Mas isso é o tipo de coisa que deveria ser uniformizada o máximo possível – não tem como estabelecer critérios que serão seguidos por todos da mesma forma.
O que se vê na arbitragem brasileira é um Samba do Crioulo Doido (antes que alguém me ataque, trata-se uma música composta pelo jornalista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, na década de 60).
Já escrevi anteriormente sobre o VAR. Tinha muita gente empolgada com a novidade. Eu sempre coloquei ressalvas. O que eu previ está mais ou menos acontecendo. Vai ajudar bastante se o comando do futebol no país permitir que os técnicos também peçam revisão de lance, como acontece em outros esportes. Mas com o limite de uma ou duas solicitações por jogo. E o juiz mantém esse direito, claro, assim como os observadores de vídeo.
Agora, é fundamental que a subjetividade seja reduzida ao máximo. Não é o que está acontecendo, o que contribui para a lambança geral que estamos presenciando. A continuar assim, sem uma correção imediata, em breve o VAR estará desmoralizado no Brasil.
Seria uma pena.