Do céu ao inferno em dois minutos, sem escala. Durante 25 ou 30 minutos, o céu foi o futebol rutilante, esplendoroso, do Grêmio massacrante, aplicando 3 a 0 no Fluminense com direito a show de bola.
Cheguei a ouvir um coral de anjos e som de harpas celestiais. Sob o comando do maestro Maicon o time me deixou enlevado, feliz.
O comentarista Petkovic não se conteve e classificou o time treinado em ‘rachão’, como dizem os ranzinzas de sempre, de Barcelona. Um baita (e justo) elogio, que, infelizmente, parece ter repercutido em campo.
Alguns jogadores calçaram salto alto. Os três gols marcados até os 21 minutos, seguidos de duas boas chances de ampliar, passaram a impressão a todos, e não apenas o pessoal que esteve na Arena e os que optaram pela TV, de que o jogo estava liquidado. Eu mesmo comecei a achar o jogo chato, prevendo um segundo tempo morno.
Nós, que estamos fora das quatro linhas, podemos pensar dessa forma, mas jogador profissional não pode pensar assim. Precisa manter seriedade e aplicação todo o tempo.
O time carioca estava abatido, mas não morto. E mostrou isso em dois minutos. Aos 38, um gol de chiripa de Gonzalez. Aos 40, o gol que abriu as portas do inferno.
O goleiro Júlio César, que alguns queriam no lugar de Paulo Victor, decidiu enfeitar, calçando salto 15. Foi driblar dentro da área e perdeu a bola para Luciano, que descontou. Tudo indicava que o segundo tempo, que prometia ser apenas para cumprir uma formalidade, seria marcado por fortes emoções.
E não deu outra. O Fluminense do técnico Fernando Diniz, queridinho de alguns que silenciaram constrangidos com o chocolate inicial e renasceram depois, voltou avassalador.
Parece ter ocorrido um apagão no time gremista. Um mistério o time ser envolvido e massacrado do jeito que foi. O goleiro vilão fez duas defesas sensacionais. Mas o Flu empatou aos 9 minutos, após outra grande defesa de Júlio César.
Aliás, que falta fez o Geromel. O adversário ganhou quase todas as disputas pelo alto. Kannemann se duplicava na área, mas, afoito, acabou cometendo falta, aos 23, durante um agarra-agarra com o zagueiro Mateus Ferraz. Na verdade, os dois se agarraram. Não era lance para marcar pênalti. Pedro converteu e colocou o Flu em vantagem.
Aí, o ‘vilão’ do pênalti foi lá na outra área para empatar o jogo. Luan bateu escanteio e Kannemann converteu de cabeça.
Mas ainda havia mais emoção pela frente. Tudo se encaminhava para o empate. O Grêmio teve minutos de lucidez e voltou a ameaçar o gol. O goleiro Rodolfo fez duas grandes defesas. Quem não faz leva. Nos acréscimos, o Flu voltou a marcar: 5 a 4.
Um grande jogo, talvez o melhor do Brasileiro até agora.
Caberá ao técnico Renato remobilizar o time para enfrentar o Universidad, que, ao contrário do que se pensa, não é galinha morta.
O Grêmio precisa extrair desse jogo contra o Fluminense ensinamentos que o levem a manter um ritmo forte durante os 90 minutos. Como se sabe, e a gente por vezes se esquece, o jogo ‘só acaba quando termina’.