Tem gente que ainda consegue ver a seleção brasileira com os olhos do passado, anterior ao vexame dos 7 a 1. Existe sempre a expectativa da vitória fácil e até de goleada contra equipes mais frágeis, como a Venezuela, por exemplo.
O empate de ontem, em Salvador, começou fora de campo. O pessoal não consegue deixar o salto alto e calçar a sandália da humildade. A goleada imposta pela Alemanha deu um choque de realidade, mas ao que parece não foi suficiente.
A soberba verde-amarela não envolve apenas os jogadores e a comissão técnica. Passa também pela torcida, esta sempre faceira à espera de gols e de show, e chega à imprensa.
Descrevo uma conversa que ouvi durante a jornada, acho que no intervalo, entre integrantes da equipe da TV Globo. Um repórter, todo felizinho, em tom jocoso, dizendo que havia perguntado ao treinador da Venezuela, antes do jogo, se ele acreditava que seria possível vencer o Brasil (só faltou o adjetivo ‘poderoso’ antes do ‘Brasil’ pelo jeito que foi formulada a pergunta).
O repórter, entre risos seus e dos companheiros, relatou que o técnico teria tido então que ‘se não fosse possível vencer ele nem teria vindo para o Brasil’. A resposta, mais do que natural, diria até que obrigatória, provocou risadinhas da equipe, que mantém o ufanismo até quando um jogo está em 0 a 0, que acabou sendo o placar final.
Se fosse um adversário um pouco mais qualificado do meio para a frente, e com um mínimo de ambição, o Brasil com certeza correria o risco de perder, o que seria trágico.
Então, o pessoal vive numa bolha, fora da realidade. A seleção mereceu vencer, sem dúvida, e até fez dois gols, ambos anulados corretamente pelo VAR (aliás, os árbitros estão enxergando menos ou estão transferindo a responsabilidade para o olhar eletrônico?
Destaque para Éverton, que mais uma vez entrou na parte final do jogo, e construiu com sua técnica, seus dribles e seu ímpeto de ir para cima da marcação, o lance que resultou no gol de Coutinho. O gol foi anulado porque tinha um infeliz impedido, mas restou para o mundo a bela jogada do cebolinha, saudado efusivamente pela torcida.
Éverton foi um dos poucos que escapou da vaia no final. Tite não tem mais como deixar o craque gremista no banco de reservas.
LUAN
Para concluir, a seleção está precisando de alguém que pense o jogo no meio de campo. Arthur pode ser esse cara, na função de um terceiro volante, misto de meia. Coutinho naufragou. Excelente jogador, mas não para ser o principal articulador ofensivo.
Ouso dizer que o Grêmio tem dois jogadores perfeitos para acertar o time: Maicon e Luan. O primeiro até já foi citado por Tite, mas o fator idade pesa demais. Maicon só na outra encarnação.
Restaria Luan, mas do jeito como ele está, fora inclusive do time tricolor, não tem chance. Não sei qual a influência do empresário de Luan nessa situação, mas o fato é que se Luan estivesse com todo o seu potencial, arrasando no Brasileirão, sua convocação seria quase inevitável, até para um treinador, igual a quase todos, que costuma morrer abraçado às suas convicções, às suas ovelhinhas.
De qualquer modo, eu, o mesmo que antes da Copa do Mundo já pedia Éverton na seleção, teria uma conversa com Luan para trazê-lo de volta ao seu parque de diversões, os campos de futebol.
Mas é um delírio meu. Para fazer isso, Tite teria de calçar a sandália da humildade e ter a mente aberta para buscar soluções improváveis. O problema é que os treinadores dificilmente saem do roteiro.