Em 1982, logo ao assumir como vice-presidente de futebol do Grêmio, Alberto Galia (já falecido) tinha como primeiro objetivo contratar um treinador, e só a partir daí começar a busca por jogadores.
Era um outro tempo, primeiros anos de um futebol realmente profissional, mas ainda distante da farra dos milhões de dólares que movimenta o circo do futebol, no qual em pouco tempo jogadores conseguem ficar milionários.
Acompanhei de perto o Galia, um sujeito tranquilo e amável, mas rígido nas questões financeiras. Repórter da Folha da Tarde, eu era obstinado em dar notícias em primeira mão, o furo.
Eu tinha convicção de que ele não iria demorar em anunciar o escolhido, que eu suspeitava ser alguém de pouco nome e remuneração menor.
Sabia que a ideia dele e do então presidente Fábio Koff era investir mais em jogadores do que em treinador. Mas poderia ser despiste.
Um nome martelava minha cabeça: Valdir Espinosa, que tivera rápida passagem pelo clube como técnico em 1980 e depois havia trabalhado pelo Londrina e Ceará. Além disso, em 79 havia sido vice gaúcho com o Esportivo, superando o Inter.
Eu tinha uma certeza, a contratação poderia sair a qualquer instante. Passei o fim de semana ligado, obcecado. Temia ser furado.
Não havia celular, é bom não esquecer. Descobri que Galia estava em seu sítio, na Glorinha.
No domingo, início da tarde, calor do cão, lá fomos nós, o fotógrafo e o motorista num flamante fusca 1.3, sem ar condicionado.
Não foi fácil encontrar o sítio, mas chegamos lá. Fomos recebidos efusivamente pelo Galia e familiares.
Conversei durante quase uma hora com o Galia. Muito discreto e precavido, ele não confirmou Espinosa, mas deixou claro que o ex-lateral gremista, o cara que dois anos antes havia indicado Renato Portaluppi ao Grêmio, tinha o perfil exigido pela nova direção.
Em resumo, foi o que escrevi. Não apostei mais forte porque o acerto poderia não ocorrer ou até Espinosa são fosse o nome melhor cotado.
Bem, o material foi publicado no dia seguinte, segunda-feira. Se não me engano, duas páginas, com direito a fotos de Galia em seu belo sítio.
Dois ou três dias depois Galia anunciou Espinosa. Ithon Fritzen como preparador físico, se a memória não me trai.
Foi assim, com uma comissão técnica barata (sem a figura do diretor remunerado com poder de decisão) e enxuta que o Grêmio começou a aplainar o caminho para os títulos da Libertadores e do Mundial, em 1983.
No comando, Valdir Espinosa, tendo o respaldo de Galia e Koff.
Por seu gremismo, profissionalismo e competência, além de ser o único técnico campeão Mundial pelo Grêmio, Espinosa merece um busto de bronze na Arena.
Descanse em paz, Espinosa (17/10/1947-27/02/2020).