O ‘Departamento de Lapidação’ e a lição do caso Diego Rosa

Muito do sucesso do Grêmio nos últimos anos se deve ao seu “Departamento de Lapidação” que coloca o Grêmio como o clube que melhor tem aproveitado os jogadores da base, ganhando títulos e consolidando sua hegemonia no Estado.

Como se não bastasse, esse departamento, que é uma brincadeira provocativa, porque na realidade não existe no organograma do clube, ainda ajuda a fazer muito dinheiro para manter a roda girando, além de projetar o nome do clube.

O sucesso desse trabalho é tanto que até clubes milionários como o Manchester City nele se inspiram. Um exemplo é o procedimento do clube inglês, que está levando o promissor Diego Rosa, de apenas 17 anos, não para entrar direto no grupo principal por entender que o guri ainda não está pronto para o desafio.

Então, o que faz o Manchester City, que investiu uns 10 milhões de dólares, pelo menos, para contar com esse jovem atleta? Faz praticamente o que costuma fazer o Grêmio: segue a cartilha do coordenador da lapidação tricolor e o escala numa equipe de transição.

A diferença, neste caso, é que a transição será feita em outro clube, um clube belga, onde o nível de exigência é menor, permitindo que o jogador seja lapidado sem pressa, com toda a atenção (talvez não a mesma que ele receberia se continuasse no Grêmio), para ser lançado no momento que a comissão técnica considerar o mais adequado.

É o ‘Departamento de Lapidação’ fazendo escola.

CADA CASO É UM CASO

Estou exagerando, claro. Um exemplo oposto: Vinicius Jr, então com 18 anos, trocou o Flamengo pelo Real Madrid, um negócio milionário. Já houve casos em que o clube espanhol contratou e logo emprestou para uma agremiação parceira. Normal.

Cada caso é um caso. O fato é que todo jogador passa por uma lapidação. Breve ou prolongada. São muitos os exemplos de que a pressa prejudicou o jogador lançado prematuramente, e também o clube que nele aplicou dinheiro e tempo. Lincoln é um exemplo.

No caso do Grêmio, diante da celeridade dos agentes do futebol em fazer fortuna com jogadores ainda em formação, como atletas e cidadãos, percebo aqui de fora, sem conhecer o que rola nos bastidores, que já passou da hora de acelerar o processo de transição da base para os profissionais.

MAIS AGILIDADE NA AVALIAÇÃO

Para isso, é fundamental que os homens que comandam a base tenham capacidade de apontar com grande percentual de acerto quais os jogadores que merecem mais atenção, mais carinho, mais dinheiro, mais ou menos como fazem os agentes em seu processo de sedução.

Até mesmo o perfil dos agentes mudou: no passado eram senhores com aspecto respeitável, boa formação e com preocupação não apenas de ganhar dinheiro; hoje, pelo que vi, são jovens, alguns quase da idade de seus representados, falando a linguagem desta geração, e muitas vezes esbanjando arrogância porque contam com uma legislação cruel com os clubes e generosa com o profissional. Urge uma mudança na chamada Lei Pelé.

O fato é que o clube terá de investir valores mais elevados em jogadores com 16 ou 17 anos, sem a certeza de que haverá o retorno esperado. E sabe-se que a maioria não passa pelo funil. Mas é um risco que o Grêmio terá de correr para reduzir o número de jovens que deixam o clube de forma precoce (caso do Diego Rosa, entre outros), sem dar o retorno financeiro projetado pela direção.

No futebol, como em outras atividades, a fila anda.

Mas é sempre bom ratificar: mesmo diante dessa dificuldade, que só existe porque o trabalho de formação na base é exemplar, o Grêmio na atual gestão segue fazendo dinheiro com seus jovens, o que não se vê na maioria dos outros clubes de ponta no país.