Se eu fosse treinador de futebol seguiria o exemplo do grande Ênio Andrade, que costumava dizer, em tom jocoso, que um percentual de sua remuneração – nem de longe semelhante ao que se paga hoje – era para aguentar os repórteres, em especial os setoristas de clube.
Hoje, eu faria o mesmo, mas acrescentaria um percentual ainda maior para suportar o pessoal do futebol nas redes sociais , que sempre sabe mais do que todo mundo, e que tira conclusões definitivas a partir da ponta do iceberg, ou seja, com um mínimo de conhecimento sobre os fatos. E quando erram, simplesmente ‘esquecem’ e mudam de assunto, e o alvo de sua crítica que se dane.
Mesmo fora do Grêmio, o técnico Renato segue sendo criticado por esse tipo irritante de gremista. É um pessoal que vira e mexe insiste que Renato não treinava, que era só rachão. Quatro anos e meio fazendo rachão…
O time que durante dois anos foi considerado o de melhor futebol do país, conquistou uma Libertadores e uma foi construído assim, na base do rachão?
É uma total irresponsabilidade opiniática que se alastra a cada dia, e não apenas no futebol.
Vejamos o caso do novo técnico do Grêmio, Tiago Nunes. Ele nem tinha assinado contrato e já havia gente lançando farpas no twitter e nos grupos de whatts. Colorados trataram de abastecer as ‘redações’ virtuais com fotos de Tiago com a camisa do Inter.
Em troca, gremistas antenados publicaram fotos de Tiago festejando a conquista da Copa do Brasil no Beira-Rio.
Assinado o contrato, já havia ‘apostas’ na internet sobre quanto tempo Tiago Nunes vai durar. A atuação ruim contra o Ypiranga forneceu munição para novas críticas. O que mais pegou é o sistema de marcação por zona, que ele testou logo no primeiro jogo, com apenas um treinamento. Talvez tenha sido seu erro. A pressa de mostrar serviço e ser diferente do técnico anterior.
Aliás, Tiago deve trabalhar implantando suas convicções, sem comparar com Renato Portaluppi. E isso não se faz da noite para o dia.
Mas nas redes sociais, onde a impaciência e ansiedade são as causas maiores dos problemas, já tem gente querendo um time mais isso, mais aquilo. Aí, tem gente que gosta do ‘isso’, e outros defendem o ‘aquilo’. Pronto, está aí criado outro debate que sai do nada para lugar algum.
Eu imaginei que com a saída de Renato, o ambiente para o seu sucessor trabalhar seria mais tranquilo. Ledo engano. Temo pelo que pode acontecer em caso de uma derrota. Saem os ‘renatistas’, entram os ‘tiaguetes’.
A conclusão que eu chego, e muitos já chegaram, é que o torcedor de futebol, principalmente de clubes grandes, é muito chato, impertinente e nada modesto, porque ele sempre acredita que sabe mais do que todos, e isso inclui o treinador, o presidente, etc.
Bem, o Tiago e seus pares ganham muita grana. Dá pra suportar tudo isso.