O TST, no qual o combativo e sempre otimista setor jurídico do Inter depositava suas mais caras esperanças de vitória, sequer analisou o recurso, devolvendo a batata quente para o TRT, em São Paulo. Ao território inimigo, portanto.
O TRT paulista foi quem reativou o contrato de Oscar com o São Paulo. Uma decisão que abalou os profundos alicerces da convicção colorada de que conseguiria levar o jovem talentoso assim, na maior, de graça.
Durante meses a direção colorada passou ao seu torcedor, através de uma imprensa com postura pouco crítica e absolutamente parcial em relação ao caso, que o Inter havia feito uma grande jogada trazendo Oscar sem pagar nada ao SP. Dito assim, era mesmo um grande negócio. A meu ver, uma ação antiética.
Sei de gremistas que invejaram a ação dos dirigentes colorados, reclamando que os do Grêmio não eram capazes de lances parecidos.
Hoje, com outra derrota no tapetão, os colorados estão temerosos. Dizem que o Inter pagou cerca de R$ 4 milhões para ter 50% dos direitos federativos (passe mesmo) de Oscar. Não sei se é verdade, menos ainda para onde teria ido essa fortuna. Provavelmente para Oscar e seu procurador e/ou empresário. No meu bolso é que não foi parar.
O presidente Luigi e sua assessoria jurídica não consideram essa decisão absolutamente contrária aos interesses do clube como uma derrota. Se isso não é derrota, seria o quê?
É mais uma batalha perdida. Não a guerra, claro.
Cabe ao Inter lutar até o fim. É o ‘jus sperniandis’, expressão latina que não existe de fato, mas muito usada por estudantes de Direito no meio acadêmico, e que significa o livre direito de espernear. Ou algo assim.
Agora, nessa questão, eu torço pelo SP.
Na verdade, torço para que a moralidade, a ética e o respeito prevaleçam em tudo, inclusive no futebol.
Em sua nota oficial, na qual dá prazo de 90 dias para Oscar se apresentar, o SP afirma com muita felicidade:
“Essa não é uma briga entre clubes, nem uma briga do São Paulo com o atleta que admiramos. É uma briga pelo respeito à legislação e às Instituições desportivas”.
Perfeito. Quero frisar que fosse o Grêmio no lugar do Inter pensaria da mesma forma.
Aos colorados peço apenas que imaginem se a situação fosse inversa.
Enquanto os dirigentes entrarem nessa de aproveitar o litígio entre atleta e clube, em alguns casos litígios provocados por espertalhões que querem tirar proveito dessa relação cínica entre os clubes, cada vez mais eles irão perder e procuradores e empresários enriquecer.
A esse respeito, recorro mais uma vez à nota do SP:
“Sem prejuízo, aproveitamos para reiterar nosso respeito e admiração profissional pelo Atleta Oscar, que foi formado nas esteiras do São Paulo Futebol Clube e que acabou sendo colocado, por aqueles que deveriam orientá-lo, no centro de uma lide histórica na qual se discute não apenas o contrato assinado, mas o próprio nível de segurança que os clubes nacionais gozam frente à conduta predatória de terceiros, alheios à relação de emprego”.
Oscar parece mesmo ter sido seduzido por uma conversa de ganhar muito dinheiro em pouquíssimo tempo, mais ou menos o que motivou a famiglia Assis Moreira dez anos atrás.
Na raiz desse tipo de pensamento, no qual se despreza completamente o clube em que o atleta jogou desde criança, está uma questão de caráter.
E é aí que entra a família na vida de um jovem de origem pobre, humilde, que possui um talento especial. Onde estava a família de Oscar quando ele decidiu romper com o SP? Pelo que soube, ele é órfão de pai. Mas e sua mãe, sempre tão importante para qualquer um, principalmente para os mais jovens? Ela está blindada? Não pode falar? Sinceramente, gostaria de saber o que ela pensa.
E isso me conduz o caso Alexandre Pato. Ele poderia ter saído do Inter sem renovar, deixando mal o Inter. Mas eu lembro que seu pai veio a Porto Alegre e renovou, garantindo uma robusta indenização ao Inter, e dizendo que fazia isso por gratidão ao clube que ajudou Pato a se desenvolver profissionalmente.
Bonito, não? Pena que gratidão seja uma palavra tão desgastada quanto a ética.