Depois de sobreviver aos anos de chumbo, a famigerada década de 70, eu pensei que estava pronto para superar qualquer dificuldade e enfrentar qualquer desafio.
Hoje, percebo que minhas forças estão se esgotando. Fosse participar de uma daquelas provas calhordas do BBB, eu sucumbiria facilmente.
Sobrevivente dos anos 70, quando o Inter foi tri brasileiro depois de acumular uma atordoante série de títulos regionais, então muito valorizados, eu imaginava que depois de festejar o Brasileiro de 1981, nunca mais viveria pesadelo semelhante aqueles anos de Figueroa, cotoveladas e cia.
Foi nessa época que comecei a trabalhar como repórter esportivo – ironia, saí da arquibancada do Olímpico para ser setorista do Inter. Lembro que uma de minhas poucas alegrias foi uma rara vitória sobre o Inter, com atuação mágica do ponta Zequinha, um dos jogadores mais habilidosos que vi.
Lavava a alma, mas logo vinha outro golpe.
É mais ou menos assim neste século. Algumas alegrias esparsas, isoladas como uma flor no pântano que é essa fase já tão longa de vitórias vermelhas.
Nunca me perfilei entre aqueles gremistas que acreditaram que com a Arena tudo passaria a ser diferente.
Acompanhei, incrédulo e maravilhado, o entusiasmo de gremistas caminhando do Olímpico à Arena, como uma peregrinação de fiéis rumo à salvação.
O abraço emocionado no Olímpico. No jogo de despedida eu estava lá, mesmo acreditando que ainda haveria mais jogos no velho estádio.
Manifestações de amor, de paixão, de esperança.
O fato é que os últimos acontecimentos reafirmam uma antiga convicção que tenho:
– Nada está tão ruim que não possa piorar.
A Arena, que seria a redenção, o paraíso, por enquanto parece mais o inferno.
Ouvi relatos revoltantes de torcedores que não conseguiram ou tiveram dificuldades para ingressar na nova casa no sábado.
Um torcedor teve ataque de fúria, tentou forçar a entrada, foi contido e acabou acertando um soco num funcionário. Foi detido e encaminhado ao Jecrim.
Outro, também do Interior, chegou a exibir um volume de cédulas a um porteiro para entrar. Acabou entregando seu ingresso ao filho de uns 12 anos, pedindo que o funcionário encaminhasse o guri ao local determinado.
– Por favor, leve o menino. Eu já conheço a Arena, ele não. Eu fico aqui escutando o jogo pelo rádio -, conformou-se.
Esse tipo de coisa não pode acontecer. E pelo jeito vai continuar acontecendo enquanto uma empreiteira estiver administrando esse aspecto tão sensível da relação clube/torcedor.
Mas o pior mesmo é essa questão de fluxo de caixa. Uma situação que precisa ser resolvida o mais rápido possível.
Então, o que resta ao gremista é o bom momento do time, que apesar da instabilidade dá esperança de uma campanha vitoriosa na Libertadores.
O time está bem e tem tudo para melhorar.
O problema mesmo é o seu entorno, que fornece munição aos secadores de todas as instâncias.