Grêmio esteve mais perto da vitória

O gol do Inter logo no começo do jogo deixou o Grêmio mais alvoroçado que os sabiás nesta época de acasalamento em que eles passam a madrugada imitando, aos gritos, a voz esganiçada de D’Alessandro.

É um coral irritante de D’Alessandros.

Com esse esquema de jogar fechado, não levar gol e especular um na frente, o Grêmio sentiu o gol de Williams, após ótima jogada de Otávio, que passou no teste de fogo com louvor. Levou pau, mas não se intimidou.

O time realmente ficou perturbado. Pará estava transtornado, embora ele parece que sempre joga transtornado. A diferença é que estava agressivo demais, metendo a mão e o braço na cara dos adversários. Até demorou para levar o cartão amarelo, num lance com Otávio, o melhor do Inter disparado.

Souza fez uma de suas piores partidas. Falhou no primeiro gol de forma bisonha. Para agravar, ainda perdeu dois gols, conforme ele mesmo admitiu ao deixar o campo. Aquele lance no finalzinho, cruzamento do Kleber, era para matar o jogo. Ele cabeceou para fora.

A zaga também sentiu o gol logo aos 4 minutos. Tivesse o Inter um time melhor, poderia ter ampliado.

O Inter foi levemente superior no primeiro tempo até em função desse gol, da torcida praticamente toda a seu favor e também por causa de algumas atuações individuais do Grêmio abaixo da normalidade. Diria que de quase todos, a começar pelo Dida, que saltou tarde no gol de Williams. Mas foi um chute forte, rasante.

Aos 40, Ramiro, que voltou a jogar muito bem, lançou para Barcos na grande área. O zagueiro Jackson, que afastou Mário Fernandes do futebol por alguns meses com uma voadora que Leandro Vuaden ignorou, foi finalmente punido. Tentou interceptar e marcou um belo gol, encobrindo Muriel, que começa a pegar fama de goleiro com mala suerte.

Aparte: que diferença uma arbitragem de Gre-Nal com juiz de fora… Foi muito bem o juiz carioca.

No segundo tempo, o Grêmio jogou mais tranquilo, mais confiante. Começou a aparecer o futebol de Kleber e Vargas.

Com a bola mais trabalhada, os dois atacantes enlouqueceram a marcação colorada. Vargas com seus dribles perturbou os defensores.

Foi aí que Kleber começou a mostrar o quanto é inteligente pra jogar futebol. Aos 6 minutos, ele trabalhou toda a jogada com Ramiro – o lance todo me deu a impressão de jogada treinada, Kleber levou a bola para a esquerda, atraiu três marcadores, Ramiro encostou e ele deu-lhe a bola. Ramiro devolveu de calcanhar deixando Kleber livre. E aí a metida milimétrica para Vargas entrar, driblar Muriel e mandar para a rede, um golaço.

Kleber e Vargas foram os melhores do Grêmio. Pena que o centroavante não esteve no mesmo nível. Aí, a vitória seria inevitável.

Cinco minutos depois, Souza perdeu o gol ao cabecear para fora num lance em que saltou sozinho na cobrança de escanteio.

É claro que o Inter, empurrado pela torcida, não esmoreceu. D’Alessandro fez boa jogada, invadiu a área e foi derrubado por Bressan, para mim, o melhor da zaga.

Dida adivinhou o canto, mas não defendeu o chute do argentino.

No finalzinho, a chance desperdiçada mais clara do jogo: o rebote de Muriel no chute de Alex Telles, a sobra para Kleber, o cruzamento na medida para Souza, que cabeceou pra fora. Seria o gol da vitória.

O empate, diante daquele início tumultuado, foi bom para o Grêmio, que jogava fora. Mas que o gol perdido do Souza deixou um gostinho de quero mais, deixou.

Agora, vamos ao que realmente interessa: o jogo decisivo contra o Corinthians, que vale vaga na semifinal da Copa do Brasil, competição em que há chance real de título.

Enquanto isso, o Inter pega o Atlético PR em Curitiba. O Atlético foi batido pelo Goiás com facilidade na rodada, o que me dá a impressão que jogou com freio de mão puxado pensando na Copa do Brasil. O desafio do Inter é pior que o do Grêmio, que joga em casa.

VHS

Depois do jogo, a provocação bobinha do sabiá, digo, do D’Alessandro: “Tem time que olha de binóculo, mas também tem time que precisa de fita VHS para relembrar título”.

Primeiro, ele assumiu que olha para o Grêmio de binóculo. Muito digno da parte dele. No mais, realmente, está na hora de o Grêmio ter seus títulos registrados em DVD ou coisa parecida.

O atacante Kleber, ao ser informado disso pelos repórteres, mostrou que é lúcido também fora de campo: “O Inter passou a existir em 2006”.

Boa essa corneta, é saudável.

Se a rivalidade Gre-Nal ficasse restrita a esse tipo de brincadeira seria perfeito.