Eu ando me sentindo como o biscateiro da minha zona. Ele vive de pequenos serviços para sobreviver. Arruma um trabalho aqui e outro ali, e vai levando a vida.
Hoje, sou um biscateiro emocional, ao menos no futebol. Vivo, ou sobrevivo, de pequenas alegrias.
São pequenos momentos que me deixam muito feliz, eufórico até.
São momentos que fazem-me acreditar que posso deixar as trevas de frustrações onde mergulhei nos últimos doze anos para ganhar a superfície luminosa das vitórias e das grandes conquistas.
Assim, quando o Grêmio belisca um título importante, conquistando um vice com muito sacrifício, jogando com bravura e indignação que sobravam na década coruscante de 90 e que Renato conseguiu resgatar, embora sem o mesmo futebol rutilante daqueles anos, eu sinto essa pequena alegria.
Agora, quando esse lampejo de felicidade é seguido de ações que apequenam o Grêmio com a desculpa de que não há dinheiro – e daí, nunca houve mesmo e ainda se esbanjou dinheiro como se as cédulas nascessem em pés das pitangueiras que abundam, ops, em Porto Alegre – aí a depressão é inevitável. No meu caso, depressão acompanhada de revolta e indignação.
Foi tão difícil conquistar a vaga direta na Libertadores que é revoltante ouvir as vozes conformadas que oriundas do velho Olímpico dos discursos inflamados de um Hélio Dourado e até mesmo do Fábio Koff denunciando o esquema Parmalat, hoje anunciar um técnico sem a estatura de um clube que sempre entra – ou entrava – na Libertadores para brigar, e brigar mesmo, pelo título.
Quando aquele Grêmio do Felipão seria expelido da Libertadores da maneira apática como ocorreu neste ano com o glorioso Luxemburgo? Nunca. Jamais. Não aquele Grêmio.
A vida é mesmo como uma montanha russa. Em meio ao processo depressivo, eis que o Raja Casablanca me surpreende e elimina o time do RG. Quando liguei a TV, não sabia o resultado: só deu tempo de ver a bola chutada entrando e o narrador dizendo que o jogo estava em 1 a 1.
Vibrei no fundo do abismo emocional onde me encontrava. E parei para ver o resto do jogo. RG deu um balãozinho tipo foca amestrada no meio do campo, bem longe da área. Depois, errou meia dúzia de passes seguidos. Cada erro, um sorriso meu.
Por outro lado, o ‘Montauri’ acabava com o jogo com vitalidade, categoria, visão de jogo, talento.
No final, a derrota de RG. Só não fiquei mais feliz porque a imagem do Cuca com expressão de incredulidade e frustração foi tocante.
Mesmo assim, foi mais uma pequena alegria.
Uma alegria que aumentou quando o narrador da TV lembrou Mazembe e Inter em 2010, esta sim uma imensa alegria, tanto que criei as cervejas Mazembier e Kidiaba.
O fato é que o narrador foi cruel, muito cruel com os colorados.
Mas foi outra pequena alegria, talvez a última que terei no futebol por um bom tempo.
Grandes alegrias, então, só por milagre.
Não dizem que acontecem milagres no Natal?