Cada um comemora o que pode. O sujeito quando vai ficando mais velho comemora cada virada de ano como se fosse um renascimento, o alvorecer como uma dádiva e o surgimento da lua no céu estrelado como um prêmio por mais um dia vivido. Eu ando assim, e também um tanto nostálgico, remexendo velhas fotos. Como esta:
Este é o time do CP/Rádio Guaíba, campeão de um torneio anual que o ‘tio Marquinhos’, dono de uma rede de lojas famosa à época, anos 80/90, promovia juntando toda a mídia.
Aparecem: José Aldo, Jurandir Soares, Nobrinho e Pauletti, um dos maiores craques do futsal gaúcho em todos os tempos. Agachados, eu, com um ridículo bigode a la Rivelino porque o futebol era muito parecido, Miro Bacin, Paulo Sérgio Pinto e um cara que não lembro o nome agora.
O fato é que comemoramos muito esse título, com carne e cerveja em abundância.
Então, como eu ia dizendo, a gente comemora o que pode, qualquer coisa. Hoje, vejo pelas redes sociais os colorados comemorando a primeira colocação num ranking da ESPN. Seria o clube mais vitorioso no século.
Nunca liguei para esses rankings, seja de empresas da área esportiva, seja de entidades como CBF, Fifa, o que for.
Tudo depende de critérios, normalmente muito discutíveis. Nesse ranking da ESPN, o título regional vale um ponto. A Copa do Brasil vale apenas dois pontos. O Inter, de 2001 para cá, venceu nove regionais. O Corinthians, segundo colocado, venceu quatro. E todos nós sabemos que não há termos de comparação entre o Paulistão e o Gauchão.
Temos, então, que o Corinthians leva um ponto por conquistar o Paulista, talvez o regional mais difícil do país. O campeão da Paraíba também leva um ponto. É possível levar a sério um ranking com esse critério.
O mesmo vale para o ranking da CBF, no qual o Grêmio desponta como líder, secundado pelo Corinthians, ele de novo.
Na década de 90, o Grêmio liderou todos os rankings por um certo período. Inclusive o de um instituto criado na Alemanha, sabe-se lá por quem, mas que acabou ganhando credibilidade pela insistência em mandar seus ‘estudos’, primeiro por telex, depois por email. Nunca liguei pra isso, assim como o editor da época, que passou a valorizar esse ranking depois que o Inter começou a vencer, merecendo até chamada de capa. Antes, era rodapé.
Em vez de comemorar ranking, eu prefiro festejar títulos. Enquanto gremistas e colorados comemoram essas honrosas, não nego, colocações, os mineiros embriagam-se com dois grandes títulos. Os atleticanos comemoram a Libertadores e os cruzeirenses o Brasileirão.
No futebol, é só isso que importa: títulos. O resto é só distração de torcedores frustrados e saudosos. Serve apenas para alimentar debates e flautas em botecos e nas redes sociais.
HE-MAN
Assim como me emociono diante de velhas fotos em preto e branco, não deixo de me comover com o esforço que a imprensa em geral está fazendo para reconstruir a imagem de Rafael Moura, que voltou a ser o He-Man pelos menos no papel.
Bastou o técnico Abel Braga anunciar total confiança no atacante para que velhas e furiosas críticas fossem varridas para debaixo do tapete, onde ficarão adormecidas por um tempo, provavelmente durante todo o Gauchão, competição na qual o Inter tem sido soberano e até formidável, porque nos dois últimos não teve um jogador sequer expulso.
Um recorde, digno de um ‘campeão de tudo’.
O empenho em reconstruir R. Moura é tão grande que ninguém mais lembra o pênalti intrigante – um soco na bola – que ele cometeu num jogo contra o Cruzeiro pelo Brasileirão, empate por 2 a 2.
VIRADA EM PELOTAS
O Inter B, agora comandado por Clemer, que entrou no lugar de outro ex-goleiro, o André, se deu mal em Pelotas. Vencia por 2 a 0, tinha um jogador a mais – Jean Pierre, aquele não expulsou Damião no pontapé histórico desferido em Santa Cruz há dois anos, vermelhou um jogador do adversário -, e acabou levando uma virada sensacional do modesto time do Pelotas, treinado pelo ótimo Paulo Porto.
Pelotas campeão da Recopa em cima do Inter. Uma façanha e tanto.
Clemer está atravessando seu inferno astral.