Quando pisei o gramado do Olímpico com a camisa 16 para jogar na lateral-esquerda – sou destro, mas gosto de jogar pela esquerda porque me dou bem também com a esquerda – do time da ACEG, o coração bateu mais forte.
Um gramado impecável. Não me senti digno de pisar ali onde grandes jogadores como Alcindo, Iúra, Valdo, Renato, Jardel, Paulo Nunes, De León, Airton, Vilson Taddei, André Catimba, Gessi e tantos outros brilharam.
Mas, pensei, se o Pará pode, eu também posso. Brincadeira, claro, porque considero Pará um jogador honesto e dedicado, que virou a Geni do time.
Ergui os olhos e viajei pelo estádio. O Olímpico ainda está longe de ser um Coliseu, se mantém sólido e firme. Não fosse aquele ambiente de confraternização, o esforço para aquecer pensando no tempo que eu suportaria depois de cinco ou seis anos sem jogar, acho que uma lágrima ao menos escorreria entre os sulcos do meu rosto e talvez até chegasse ao solo sagrado.
O jogo começou com atraso, porque o governador Tarso Genro chegou atrasado, como fazem as autoridades nas solenidades. Mas aquilo era apenas um torneio de futebol em que todos são iguais. Havia empresários, um ou outro político, gente de rádio, TV e Jornal, mas todos ali queriam apenas uma coisa: bater uma bolinha no templo maior do futebol gaúcho. Tarso era apenas mais um.
Mas ele chegou e, no carteiraço, entrou no nosso time que já estava escalado. Não sei quem saiu, eu fiquei, e é o que importa.
Nosso time tinha o Airton Ruschel, conselheiro do Grêmio, baita zagueiro; Diego Casagrande, um volante improvisado na lateral-direita, mas jogando muito, mesmo de óculos; o Ribeiro Neto de quart0-zagueiro; eu na lateral-esquerda; o Newton Azambuja de ponta-esquerda e o deputado Kalil Sehbe, bom atacante. Ah, claro, o Rodrigo Mendes, jogando muita bola. Sem contar ainda o Cacau, grande volante dos anos 70/80.
Vencemos por 3 a 1 o primeiro jogo contra um time de Amigos da Band. No segundo jogo, vencemos outro time dos Amigos da Band. Ao todo, havia uns 60 jogadores. Enfim, fomos campeões.
No primeiro adversário destaque para o apresentador Paulo Bogado, um centroavante rompedor que foi flagrado em meia dúzia de impedimentos em menos de meia hora. E reclamou em todos eles. Depois, ele fez o gol deles, de pênalti.
Eu, que sou muito crítico com os outros e comigo mesmo, dou nota 7 pra mim, considerando o tempo sem jogar. Pensando bem, um 6 fica de bom tamanho.
Fiquei em campo 20 minutos. Desperdicei dois lances quando o jogo estava 0 a 0. Seria a minha consagração.
Eu conto: no primeiro, avancei em diagonal pelo meio. Fiz um sinal para o Rodrigo Mendes sair pelas costas do zagueiro e dei o passe certeiro, preciso, mas o chute foi fraco. O zagueiro cortou.
No segundo, minutos depois, jogada parecida. Roubei uma bola no meio de campo e avancei em, digamos, velocidade, pela meia-esquerda. O Rodrigo passou ao meu lado em direção à área, pedindo a bola. Joguei a bola para ele pegar na passada, mas ele acelerou pra receber na frente. O zagueiro saiu jogando.
Acho que nunca mais vou esquecer o olhar recriminador dele pra mim. Acho que foi castigo pelas notas que eventualmente dei a ele nas cotações do Correio do Povo. Rodrigo, claro, foi o melhor disparado desse torneio. Joga com muita facilidade.
Logo depois, o Haroldo Santos, presidente da Aceg e técnico do time, me substituiu. Na verdade, minha mente estava a mil, minhas pernas já se arrastavam. O Tarso, que jogou direitinho, ficou em campo mais tempo, claro.
Mais um pouco eu talvez precisasse de um desfibrilador.
Ah, arrumei um lugar no jogo para meu filho mais novo, o Matheus, e para o Roque Fernando, outro botequeiro que conheci pessoalmente. Os dois entraram no segundo jogo.
Enfim, uma grande iniciativa do Haroldinho, que organizou essa promoção, intitulada Jogo de Despedida do Olímpico.
Imaginem se for o último do Olímpico, conforme lembrou o Gabriel no comentário anterior?
Tomara que não, em nome da memória de tudo que ali nós, gremistas, passamos.
O Olímpico merece um último jogo de maior nível.