O Pai da Copa largou de mão o seu rebento, a sua cria. Existem pais assim, desnaturados, que não dão a mínima para seus filhos.
Há um caso exemplar sobre isso em Três Passos. Resultou na morte de um inocente, um guri que só queria um pouco de atenção e afeto de seu pai. Seu pai!
Mas que tipo de pai é esse que abandona seu filho?
É um ser da pior espécie.
O Pai da Copa fez de tudo para trazer a Copa do Mundo ao decantado ‘país do futebol’. Bravateiro como nunca, prometeu que a iniciativa privada bancaria a construção de modernos estádios de futebol, e que haveria pouco dinheiro público envolvido no projeto Copa 2014. Isso foi há sete anos.
O que se viu desde então é indescritível. Obras inacabadas, dinheiro jorrando dos cofres públicos via BNDES e outras torneiras, normalmente fechadas para o que realmente importa, que é saúde, segurança e educação.
O último levantamento do TCU identificou uns 600 milhões em irregularidades em obras da Copa.
Enquanto erguiam-se estádios faraônicos até onde quase não existem torcedores, fechavam-se hospitais públicos devido à remuneração insuficiente do SUS aos serviços prestados.
O povo foi às ruas. Faz um ano isso. Exigiu hospitais padrão Fifa. Ganhou intercambistas a peso de ouro e mais hospitais fechados.
Não é hora de protestar, dizem alguns, acrescentando que o momento de questionar já passou.
É que o povo é assim, acredita em suas lideranças, até que elas provem que não merecem crédito.
Quando anunciou a vinda do torneio da Fifa, o Pai da Copa não disse que os estádios seria erguidos com dinheiro público, ao contrário.
O povo está pagando essa conta. Uma conta salgada, originada às custas de milhares de pessoas que padecem nas filas de hospitais e de outras tantas que até já morreram por falta de atendimento adequado, muito diferente daquele prestado a políticos graúdos no hospital Sírio-Libanês.
O povo está revoltado. Ao menos boa parte dele. Outros vão no embalo, no ritmo da Globo, esquecem e ignoram as mazelas do dia-a-dia, e vão curtir os jogos. Nada contra.
O curioso é que o homem que lutou tanto pela Copa, que, entre outras ações, se desdobrou para ajudar o Corinthians a erguer a sua Arena, claro, com o nosso dinheiro, não vai prestigiar a sua obra.
Vai assistir aos jogos em casa, refestelado no sofá, tomando uma cervejinha. Pelo menos é o que ele falou em suas andanças por aí.
Será medo das vaias?
O fato é que o homem que, pretensiosamente, sonha – ainda sonha? – em ser reconhecido como Getúlio, o Pai dos Pobres, não vai conferir de perto a sua criação.
O Pai da Copa, como o mais infame dos homens, abandonou seu filho.
A ufanisticamente chamada “Copa das Copas” está orfã de pai.
Mas, não duvidem, se tudo der certo, ele vai aparecer no final para cantar vantagem. Não foi sempre assim?
Caso contrário, se o Brasil não for campeão e outras coisas derem errado, O Pai da Copa continuará em casa aboletado em seu sofá, tomando a cervejinha com o sorriso de quem venceu mesmo tendo perdido.