A torcida e a imprensa brasileira precisam cair na realidade. Esquecer essa conversa de que o Brasil é o país do futebol, que nossos talentos são muito superiores e em maior quantidade do que os formados mundo afora.
Todos reconhecem que está tudo muito nivelado, que não tem mais japonês no futebol – aliás, essa assertiva é do tempo em que o Brasil ainda dominava o cenário mundial ao menos na revelação de jogadores de primeira grandeza.
Mas quando o time enfrenta um pouco mais de dificuldade, todos esquecem que o Brasil está sendo alcançado tecnicamente por outros seleções, e superado por algumas delas em termos coletivos.
O empate com o México mostrou que o Brasil está longe de ser invencível – o que não é de agora – e que grande parte da torcida e da imprensa não querem aceitar isso. Terminado o jogo, a mesma equipe festejada na estreia passou a ser questionada e criticada.
E isso depois de um jogo em que o goleiro adversário saiu consagrado de campo. É claro que foi um jogo difícil. Ninguém nega. O México, pelo qual tenho enorme simpatia, sempre uma pedra no sapado brasileiro, foi eficiente na marcação e atacou algumas vezes com perigo. O resultado mais justo, porém, seria vitória do Brasil.
Ainda assim, sobraram críticas, tudo porque a imagem do Brasil como superpotência no futebol ainda é muito forte em boa parte da população, estimulada por jornalistas ufanistas e delirantes, que perdem noção da realidade.
E a realidade é que hoje japoneses, coreanos, africanos e até australianos, de futebol ridicularizado no tempo em que comecei a trabalhar como no jornalista, evoluíram e cada vez mais vão impor dificuldades a europeus e sulamericanos.
A Austrália foi grande hoje contra a Holanda. Merecia ao menos um empate, embora não tenho visto todo o jogo. Essa mesma Austrália quase tirou a Argentina da Copa.
Então, há uma mudança gradativa no futebol mundial. Potências emergentes estão incomodando os poderosos de 20 ou 30 anos atrás. Quem não entender ou não aceitar isso vai continuar se surpreendendo, como eu mesmo me surpreendo ainda, como foi ver o Chile batendo a atual campeã mundial, a Espanha, que volta pra casa com o rabo entre as pernas.
Foi em cima de uma vitória por 3 a 0 sobre a Espanha, há um ano, que o Brasil conquistou a Copa das Confederações e consolidou uma imagem de seleção forte, capaz de atropelar qualquer adversário depois de detonar a campeã do mundo. Hoje se vê que a Espanha já era ali uma equipe decadente, o que se confirmou onze meses depois.
Portanto, para evitar decepções e depressão profunda, sugiro que não se entusiasmem tanto com a equipe de Felipão.
Mesmo assim, ainda considero o Brasil favorito ao título. E elejo a Alemanha como seu maior adversário.
A Holanda, pelo que vi contra os australianos, vai morrer de novo na praia, ou até antes. O Chile é outra seleção que não tem fôlego e vai cair pelo caminho.
A Argentina, apesar de uma estreia modesta em termos de futebol, tem potencial para crescer, mas ao que parece vive só da tradição e do futebol de Messi.
É, a geografia do futebol está mudando. Quem sabe a Copa não termina com uma surpresa? Tudo é possível.
Só não é mais possível acreditar que o Brasil é o mesmo de outros tempos em que os mais otimistas diziam que era possível formar aqui três ou quatro seleções, todas capazes de brigar pelo título mundial.
Hoje, se forma uma só, e olhe lá.